São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 1997
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Computador compõe como Mozart

BOB HOLMES
DA "NEW SCIENTIST"

Um Macintosh comum, chamado EMI, produz música de qualidade e está virando cabeças no campo da inteligência artificial. Quem gosta de música clássica se emociona ao ouvir a mais recente obra de Mozart -a "42ª Sinfonia", composta 200 anos depois da "41ª Sinfonia", a famosa "Jupter".
Embora o compositor já estivesse morto, cada nota, detalhe de harmonia, de ritmo e de instrumentação foi definido por ele.
Como isso aconteceu? Foi obra de EMI e de seu criador, o compositor David Cope, dos EUA.
EMI ou "Experiments in Musical Intelligence" (Experimentos em Inteligência Musical) já produziu obras de Bach, Beethoven, Brahms, Chopin e do compositor de jazz Scott Joplin.
Para criar a "42ª Sinfonia", analisou obras de Mozart e extraiu delas o que Cope considera a "essência do compositor".
Para Douglas Hofstadter, cientista norte-americano que estuda habilidade e criatividade em computadores, a produção de "EMI" é ameaçadora.
"Eu me pergunto se a alma do compositor não é mais relevante. Afinal, mesmo sem experiência de vida, razão ou bom senso, EMI é capaz de criar uma mazurca indistinguível de uma de Chopin", diz Hofstadter.
Como funciona
Cope não pretendia abalar estruturas no mundo da música, mas sim obter ajuda em suas composições. Vem trabalhando nisso há 15 anos.
A idéia era criar um programa para analisar suas antigas composições e sugerir quais notas, pela lógica, completariam o vazio criativo em que se achava.
O segredo foi traduzir a música para uma linguagem codificada de computador.
Várias obras de um mesmo compositor são divididas em minúsculos pedacinhos, unidos depois em uma nova ordem lógica -como separar os tijolos de uma casa e construir outra, no mesmo estilo arquitetônico.
EMI não é perfeito, mas a música dos humanos também precisa de mais qualidade.
Certamente EMI tem provado ser hábil o suficiente para preencher o vazio a que foi designado: o de ajudar os compositores.
Mas sempre há liberdade para adotar a sugestão de EMI literalmente, adaptá-la ou descartá-la -e isso é importante.
"Acho que os compositores do século 21 vão trabalhar assim", diz Cope. "Todas as minhas obras são criadas em conjunto com EMI. Nunca mais vou escrever apenas como David Cope."
Eleanor Selfridge-Field, música da Universidade de Standford, acredita que poucos especialistas foram tão longe no domínio da arte e da estética.
Em seu trabalho, Eleanor está familiarizada com programas que simulam estilos musicais. "Os resultados são mínimos, se comparados ao que David desenvolveu", diz.
Primo de Deep Blue
Hofstadter também acha que EMI é único no campo da inteligência artificial e artística.
Nesse aspecto, EMI seria primo próximo de Deep Blue -o supercomputador que derrotou o campeão humano de xadrez Gary Kasparov.
"EMI faz um trabalho braçal improvável em humanos; o mesmo acontece com Deep Blue e seu raciocínio", diz Hofstadter.
Para ouvir alguns dos trabalhos de EMI, visite o site http//:arts.ucsc.edu/faculty/ cope/home.

Tradução de Viviane Zandonadi

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