São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Superlotação pode ter provocado infecção

DA REPORTAGEM LOCAL

Infectologistas ouvidos pela Folha disseram que a causa da infecção hospitalar que matou 12 bebês nos últimos 3 meses no Maternidade Municipal de Vila Nova Cachoeirinha pode estar ligada à suspeita de superlotação de bebês no berçário e escassez de funcionários no hospital -idéia defendida pela oposição ao prefeito Celso Pitta (PPB).
"A maternidade era modelo e, para chegar nessa situação, alguma coisa degenerou no hospital", disse o infectologista Vicente Amato. "Não podemos julgar sem conhecer a realidade atual do hospital, mas houve algum problema de qualidade ali (na maternidade)."
Sem fazer acusações diretas ao hospital, os infectologistas disseram que a existência de poucos funcionários para cuidar de muitos bebês é muito favorável à ocorrência de casos como o verificado na maternidade.
A maternidade ainda não conseguiu encontrar o foco da bactéria Serratia marcescens, que deu origem à contaminação dos bebês.
Segundo Orlando Magnoli, assessor de comunicação da Secretaria Municipal da Saúde, além dos 12 bebês que morreram por causa da bactéria, há outros 12 internados suspeitos de terem sido infectados por esse agente patológico.
"O número de suspeitos não é 14 crianças, mas sim 12. Os testes em 2 crianças para essa bactéria deram negativo", afirmou Magnoli, que nega as insinuações de que o hospital foi sucateado pela atual administração.
A direção da maternidade não foi autorizada ontem a dar entrevistas à imprensa. Todas as informações oficiais sobre o caso foram centralizadas pelo assessor de comunicação da secretaria.
Segundo o infectologista Nilton Cavalcanti, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas, se ficar comprovado que a maternidade sabia da existência de casos de infecção há mais de um mês e não fez nada para deter o avanço da contaminação, o hospital poderá então ser acusado de negligência no combate à infecção.
"Essa maternidade tem um grupo bom de funcionários. Precisamos saber o que aconteceu lá para emitirmos uma opinião mais abalizada", disse Cavalcanti.
O infectologista disse que o fato de o hospital afirmar que está tentando controlar a infecção há três meses não configura por si só um indício de descaso.
"Às vezes, é difícil encontrar o foco que dá origem a um surto de infecção", afirmou Cavalcanti.
Segundo Cavalcanti, esse tipo de bactéria, que é encontrada com certa frequência nas fezes humanas, pode ter sido transmitida aos bebês de várias formas.
"As crianças podem ter comido um alimento contaminado, recebido um soro ou um medicamento infectado ou mesmo terem entrado em contato com a bactéria na água", afirmou Cavalcanti.
Ele disse que essa bactéria se desenvolve bem em meio líquido.
O vereador Carlos Neder (PT) disse que o secretário municipal da Saúde, Masato Yokota, foi convocado para depor no próximo dia 25 na Comissão de Administração Pública da Câmara Municipal sobre irregularidades no PAS. "Ele vai ter de explicar a situação da maternidade", disse Neder.

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