São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 1997
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Grávida faz 'maratona' para ter bebê

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de três horas depois de ter sido dispensada do Hospital Municipal de Vila Nova Cachoeirinha (zona norte de São Paulo), com a recomendação de ir para casa aguardar mais alguns dias para o nascimento de seu filho, Selma Lopes Lima, 21, grávida de nove meses e meio, foi internada em trabalho de parto no Hospital Estadual do Mandaqui.
Até o fechamento desta edição, Selma, com dores causadas pelas contrações e aguardando o momento do parto em uma ala especial do hospital, disse que não vai esquecer o sufoco que passou essa semana -"uma verdadeira maratona".
Na manhã de segunda-feira, o casal Lima foi até o hospital Cachoeirinha procurar atendimento. "Fomos atendidos e o médico nos disse que, apesar de a dilatação estar grande (quase quatro centímetros), ela deveria ir para casa e voltar quando sentisse que estava no hora", afirmou o marido, José da Silva, 24, desempregado há um mês.
O casal continuou a maratona durante a semana. Na terça-feira, de volta ao hospital, ela foi atendida por outro médico.
"Eles só fizeram o toque, mas não fizeram nenhum exame para saber o estado do bebê. E eu já estava grávida havia nove meses e duas semanas", disse Selma.
Segundo ela, não foram realizados exames de monitoragem obstétrica de rotina, como a punção do líquido amniótico ou a amnioscopia (para verificar se a mulher está no momento propício para a realização do parto).
A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde alega que os médicos fizeram todos os exames necessários e que os procedimentos adotados foram corretos (leia texto abaixo).
"Eles não quiseram internar a Selma por medo de nova contaminação da bactéria que já matou 14 bebês. Mas deviam avisar que estava na hora do parto", reclamou José.
O casal afirma que não foi realizado nenhum exame de ultra-sonografia durante o acompanhamento pré-natal da paciente.
Na quarta-feira, de volta ao hospital de Cachoeirinha, Selma e José obtiveram a mesma resposta.
"Resolvemos ir a um hospital particular da região, mas eu não tinha dinheiro para pagar a consulta (R$ 40) e tivemos de ir embora", disse o marido.
Segundo José, apenas para ir ao hospital o casal gastou mais de R$ 100 nas últimas duas semanas.
"Se eu tivesse levado a Selma para um hospital particular, ela já teria feito o parto. No Cachoeirinha, eles só enrolam porque não têm onde colocar os pacientes e nem os bebês", disse José.
Ontem, o casal foi ao Cachoeirinha e, após o exame de rotina e a dispensa, por volta das 12h, resolveu procurar o Hospital Estadual do Mandaqui (também na zona norte). Às 15h, Selma já estava internada na sala do pré-parto.
"Além do dinheiro gasto em condução, a maratona me deixou cansada. Espero que isso não afete a saúde do bebê", disse Selma.

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