São Paulo, sábado, 22 de novembro de 1997
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BC teve de liberar R$ 13,5 bi em três dias para controlar a crise

Causas foram compra de dólar e busca de liquidez

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Números divulgados pelo Banco Central mostram que o mercado financeiro viveu três dias de grande nervosismo no final de outubro, quando o Banco Central teve de injetar R$ 7,544 bilhões no mercado e os bancos sacaram outros R$ 5,941 bilhões de suas contas junto ao BC, totalizando R$ 13,485 bilhões.
Isso aconteceu nos dias 28, 29 e 30 de outubro, quando a estabilidade do real se viu ameaçada pela segunda vez desde que a moeda foi criada -a primeira ocorreu em março de 95.
Nesses três dias, os bancos fizeram compras maciças de dólares, seja por apostas na desvalorização do real, seja pela necessidade de cobrir perdas em outros países afetados pela crise financeira internacional.
No total, as instituições financeiras entregaram R$ 11,135 bilhões ao Banco Central em troca dos dólares.
Como o volume total de dinheiro em circulação na economia representa algo em torno de R$ 25 bilhões, não é difícil imaginar as consequências de uma saída tão grande de reais do mercado.
Quando tantos reais saem de circulação, há menos dinheiro à disposição dos bancos para as operações cotidianas. Os empréstimos que normalmente são feitos entre as instituições se retraem ou simplesmente deixam de ser feitos.
Não por acaso, se multiplicaram nesses três dias os boatos sobre bancos em dificuldades para fechar seu caixa e honrar seus compromissos imediatos.
Os bancos tiveram de utilizar as reservas que ficam depositadas no Banco Central, que caíram de R$ 13,911 bilhões para R$ 7,97 bilhões.
Mas isso não foi suficiente para normalizar o abastecimento de reais no mercado. Por isso, o Banco Central teve que agir.
Juros
A providência normal, nesses casos, é emprestar dinheiro aos bancos por meio da linha de assistência financeira do BC, chamada redesconto. Durante três dias, o BC liberou R$ 5,576 bilhões assim.
O piso para os juros desses empréstimos é a TBC (Taxa Básica do BC), que na época estava em 1,58% ao mês. Dependendo de quanto o banco toma emprestado e das garantias que pode oferecer, a taxa aumenta.
Até o ano passado, o empréstimo na linha de redesconto era sinônimo de socorro do BC a bancos à beira da falência.
Mas, desde que criou a TBC, reduzindo os juros do redesconto, o BC tornou essa operação rotineira -um banco pode tomar dinheiro na linha para emprestar a outros, por exemplo. Em abril, não havia uma crise no mercado, mas o BC emprestou R$ 7,2 bilhões no redesconto.
É claro que isso não exclui a possibilidade de haver bancos em dificuldades reais.
Além de emprestar no redesconto, o BC comprou títulos que estavam em poder dos bancos. Quando faz isso, o BC impõe um desconto no valor dos títulos, calculado a partir dos juros do momento. Nas recompras no dia 30 de outubro o desconto imposto pelo BC se baseou nos juros de 3,05% ao mês.

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