São Paulo, sábado, 22 de novembro de 1997
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Região busca empregos sem se desfazer de seu modelo

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A Cúpula Social européia é fácil de resumir: a Europa aposta na preservação de seu modelo de bem-estar social, muito eficaz, mas caríssimo.
A aposta, na verdade, foi definida seis meses atrás pelos eleitores franceses e, em menor medida, pelos britânicos. A vitória do socialista Lionel Jospin, na França, trazia implícita a seguinte mensagem dos eleitores: se a situação não está boa, ficará pior se destroçarem o modelo.
Até então, a receita mais comum para a praga do desemprego europeu era exatamente a inversa: desmantelar a proteção social e reduzir os custos da mão-de-obra, para estimular as firmas européias a contratar.
Agora, a Cúpula Social mal toca nesse tipo de receituário, que vinha ganhando crescente adesão mesmo entre governantes da Social Democracia ou da Democracia Cristã, as duas correntes responsáveis pela criação e/ou consolidação do modelo.
No máximo, falou-se em reduzir a taxação excessiva sobre as folhas de pagamento. Ou seja, em vez de colocar em questão o modelo como um todo, o foco virou apenas para seus excessos, o que, de resto, é uma necessidade até contábil.
A aposta européia é até certo ponto natural. Mesmo instituições conservadoras, como o Federal Trust, estão revendo a velha acusação de que o modelo é o culpado pelo elevado desemprego.
O Trust diz que a culpa é da combinação entre um ciclo recessivo ou de baixo crescimento com os brutais custos da reunificação da Alemanha e as medidas de contenção obrigatórias para que os países europeus cumprissem as metas para entrar na moeda única.
O modelo em si teria tido "um papel complementar" no aumento do desemprego. Além disso, pesou o fato de que o contraponto disponível (o ultraliberalismo do modelo norte-americano) não seduz os europeus, pela forte desigualdade que produz.
Dois dados são eloquentes:
1 - Entre 1982 e 95, a diferença entre os 10% de mais altos salários e os 10% no ponto mais baixo da escala pulou de 3,5 para 4,3 vezes nos EUA. Na Europa, estacionou entre 2 e 2,5 vezes, mais ou menos a metade portanto.
2 - 20% dos trabalhadores norte-americanos ganham salários inferiores ao salário mínimo da Alemanha.
Mas a aposta européia não é apenas uma questão cultural. É também política. Por elevado que seja o desemprego, concentra-se em grupos específicos, principalmente as mulheres, que são a metade dos 18 milhões de desempregados.
Poupa os homens entre 25 e 54 anos, que estão no auge de sua capacidade produtiva e, por extensão, de sua influência política.
E, aos desempregados, sempre resta o consolo de um colchão social tão formidável que, pelo menos no caso da Alemanha, torna pouco atraente aceitar empregos de salário mínimo, um rendimento com o qual têm de conformar-se 20 de cada 100 norte-americanos.
(CR)

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