São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Leve dicionário na hora de ir às compras

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A mãe up-to-date vai neste X-mas aproveitar uma sale e conseguir 50% off em uma toy shop para comprar um presente para o baby. Se você tem dificuldades para entender a frase acima, desista de fazer compras neste Natal em São Paulo.
Usar palavras, expressões ou traduzir nomes inteiros para o inglês é a nova tática para atrair os consumidores, principalmente nos bairros de classe média da cidade.
Nos Jardins e na Vila Mariana (ambos na zona sudoeste), é quase impossível encontrar nomes de lojas, de marcas e de serviços em português. "How to get the best price", "Aceitamos cards", "Fazemos delivery" são alguns exemplos encontrados nesses bairros.
A "invasão" da língua pode ser medida pelo número de lojas com nomes em inglês. De cada 100 lojas de São Paulo, 15 têm alguma palavra ou estrutura do inglês no nome. Essa é uma estimativa da Federação das Câmaras e Dirigentes Lojistas, que fez um levantamento em 3.300 lojas.
A explicação de Maurício Stainoff, presidente da federação, é a mesma dada por especialistas. "Inglês tem prestígio."
Os donos de bares também resolveram americanizar. O índice de nomes "in english" é o mesmo das lojas. Levantamento da Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados mostra que cerca de 15% dos seus 300 associados também têm nomes em inglês.
O grupo que estimula o turismo na cidade é chamado de SP Convention Bureau. Segundo o grupo, esse é um nome usado por outras capitais. A mais recente campanha do SP Convention Bureau é a "SP Wellcomes Visa", para atrair clientes do cartão de crédito.
Para a maior parte dos estudiosos da língua, o que ocorre na cidade é apenas reflexo da globalização. A prova disso é a demanda crescente de quem quer aprender a língua. Na cidade, há 3.000 cursos.
Para alguns estudiosos do português, o fenômeno é "invasão". Para outros, apenas um "empréstimo". Ieda Maria Alves, professora-doutora de filologia e língua portuguesa da USP, está organizando um dicionário de neologismos e levantou cerca de 3.500 palavras novas usadas pela imprensa. Desses, 10% são anglicismos.
Entre as recordistas em uso, estão cult, black, talk show (veja as 20 mais usadas nesta página). Para Ieda, os "empréstimos podem representar um fator de enriquecimento". No Aurélio, os anglicismos são cerca de 400, menos da metade dos estrangeirismos.
Já para Dino Preti, professor-doutor de língua portuguesa da PUC-SP, a "infiltração do inglês é absurda e deve ser controlada". "Essa invasão é difícil de evitar. Acho que o caminho é o fortalecimento das escolas."

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