São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Comércio estima que só 25% irão para o consumo

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os altos juros e o elevado índice de inadimplência levam o comércio a apostar que no máximo 25% do 13º salário devem ser utilizados para o consumo neste final de ano.
Assim, as encomendas da indústria praticamente inexistem. Os lojistas estão repondo apenas os produtos que saem. Boa parte deles ainda tem estoque para vender até o final do ano.
"O consumidor usará o 13º para pagar dívidas. Estamos esperando um Natal sem euforia", diz Jaime Queiroz Filho, diretor financeiro do grupo Bompreço.
A empresa deve faturar 56% a mais neste ano -cerca de R$ 2 bilhões, contra R$ 1,28 bilhão em 96- porque adquiriu 50 novas lojas (da antiga rede Supermar). Se for considerado o mesmo número de lojas, as vendas ficarão estáveis.
O comércio de bens duráveis (eletrodomésticos e móveis, por exemplo) não tem dúvidas. "Com certeza, o consumidor ajuizado vai quitar dívidas. Só o desmiolado vai gastar demais", prevê Julio Cesar Pinto, diretor do Ponto Frio.
As vendas da rede, diz ele, estão entre 15% e 20% menores do que a previsão para o período. Neste mês, a empresa espera faturar 17% menos do que em novembro de 96. Para dezembro, a expectativa é de queda de 12% também sobre igual mês de 96.
Na sua análise, há uma expectativa generalizada do consumidor de que os preços e os juros devem cair no próximo mês e essa idéia contribui para adiar as compras.
Para Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo, o consumidor também estará propenso a pôr parte do 13º salário na poupança.
"Talvez seja um bom negócio deixar a aquisição de bens para outra hora." Para Alfieri, o consumidor deve comprar neste final de ano produtos de baixo valor unitário.
Para Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP), o uso do 13º não será tão diferente dos anos anteriores. "Os mais endividados vão pagar dívidas; os menos, vão gastar ou poupar."
Como a inadimplência deu um salto neste ano, avalia Szajman, este Natal não deve ser muito aquecido. A FCESP acredita que o faturamento do comércio em dezembro deve ser 13% menor do que o de igual período de 96. As vendas físicas devem cair 6%.
Segundo Szajman, as altas taxas de juros são um inibidor do consumo, "apesar de já terem sido maiores em 94 e em 95".
Indeciso
Wanderley Vettore, diretor do Banco Cacique, diz que a elevação dos juros de 6% para 9% ao mês já provocou queda de 25% na procura por financiamentos.
"O consumidor está muito indeciso." Para dezembro, a expectativa do banco é reduzir em 10% os empréstimos ao consumidor na comparação com igual período de 96.
"O 13º seguramente será utilizado para pagar contas em atraso." Vettore afirma que o atraso no pagamento (superior a 60 dias) representa 6,5% do financiamento concedido pelo banco. Para ele, esse percentual deve crescer a partir do início de 98.
As compras feitas até o dia 5 de dezembro podem ser pagas com cheque para o dia 20, quando será paga a segunda parcela do 13º.
A rede, que tem 111 lojas no país, adquiriu 8 milhões de enfeites, sendo que 95% foram importados da China e Argentina.

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