São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Fried x Pelé

JUCA KFOURI

Jornalistas franceses do Canal Plus estão no Brasil fazendo um documentário sobre o futebol brasileiro para levar ao ar antes da Copa.
Vieram buscar as origens do nosso futebol e procurar entender por que o Brasil produz tantos craques.
Já ouviram Nílton Santos, ouvirão Pelé hoje no Rio de Janeiro, têm entrevista marcada com João Havelange, entre outros, e tentam entrevistar Zagallo, que não quer falar de graça.
Impressionados com o que souberam a respeito de Arthur Friedenreich, segundo a Fifa o maior artilheiro da história, com 1.329 gols, 50 a mais que Pelé, quiseram checar a informação que, na verdade, não tem prova documental.
Fried jogou sempre como amador por 27 anos, dos 17 aos 43, e foi nove vezes artilheiro do Campeonato Paulista. Em 1924, chegou a marcar 33 gols no campeonato e nos nove anos em que foi o goleador máximo somou 175 tentos.
Pelé jogou durante 18 anos, dos 17 aos 34, 9 a menos que Fried, portanto. E foi 11 vezes artilheiro do Paulistão. Seu recorde, imbatível, aconteceu em 1958, quando marcou, por coincidência, 58 gols. Nessas 11 oportunidades, assinalou nada menos que 379 tentos.
Pelé tem todos os seus gols documentados e jogou a média de 75 partidas por ano, muito mais que Fried, embora por nove anos a menos.
Nada indica que o extraordinário filho de alemão com mãe brasileira negra tenha mesmo marcado mais gols que Pelé e é conhecida a fonte onde a Fifa se baseou para tê-lo na conta de maior artilheiro de todos os tempos: a revista "Placar", que, anos atrás, num aprofundado trabalho de pesquisa, publicou que eram atribuídos, sem comprovação, a Fried, o número de gols que a Fifa acabou aceitando como oficial.
*
Está certo Wanderley Luxemburgo em se preocupar com as relações trabalhistas entre técnicos e clubes. Exagera, apenas, ao reivindicar uma lei para regulá-las.
Um Código de Ética das próprias entidades de treinadores que estabeleça prazos mínimos de contratos, multas para rescisões e obediência ao que se assinou, proibindo, por exemplo, os tão conhecidos contratos verbais, será mais que suficiente para resolver a questão.
O brasileiro precisa perder a mania de pedir lei para tudo que pode ser resolvido pela simples organização de suas entidades.

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