São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Camisinha 99

GABRIELA MICHELOTTI

Invisível, será usada sem o parceiro perceber
Uma nova camisinha deverá estar disponível no mercado em dois anos. Ela tem duas grandes novidades em relação à atual, de látex: é colocada nas mucosas da região vaginal ou anal, e o parceiro não tem como saber que a pessoa está usando a camisinha.
"Por isso, a apelidamos de camisinha invisível", explica Michel Bergeron, 56, diretor do Centro de Pesquisa de Doenças Infecciosas da Universidade de Laval, no Canadá, em entrevista por telefone à Revista da Folha.
A camisinha desenvolvida pela equipe de Bergeron é feita à base de um polímero (grupo de materiais que inclui o polietileno) de consistência líquida que, em contato com a temperatura do corpo, se transforma em gel, "plastificando" a mucosa. "O gel é muito fino, e não tira a sensibilidade da mulher. O homem nem percebe que a parceira está usando."
Os testes feitos durante sete anos pela equipe da Universidade de Laval mostram que o novo gel é à prova de água e reduz drasticamente a transmissão do vírus HIV, responsável pela Aids, e do que transmite o herpes.
Ratos com a "camisinha invisível" ficavam protegidos por nove dias contra o vírus do herpes. Já 80% dos animais sem o gel, que entraram em contato com o vírus, morreram.
Para Bergeron, a nova camisinha vai ajudar as vítimas de parceiros que se recusam a usar o preservativo.
"Como um infectologista, eu vi muitas pessoas morrerem porque seus parceiros se recusavam a usar camisinha. Comecei a pesquisa porque queria que as mulheres, os homossexuais e as prostitutas tivessem em suas próprias mãos o poder de se protegerem, sem depender do parceiro", afirma.
Custo Mas todas essas novas pesquisas custam tempo e dinheiro. "Para que essa nova camisinha seja eficaz, é necessário que mulheres de baixo nível cultural e econômico, onde a Aids mais aumenta, tenham acesso a ela, e isso vai depender do seu preço", afirma Caio Rosenthal, 48, infectologista do Hospital Emílio Ribas.
Para ele, nada é mais eficaz do que o uso da camisinha tradicional. "Na Tailândia, o governo fez uma distribuição maciça de camisinhas e conseguiu ótimos resultados. O governo brasileiro deveria investir mais nisso, começando por baixar o preço, que aqui no Brasil é absurdo."
Bergeron acredita que a "camisinha invisível" não será mais cara que a de látex. "O material com o qual trabalhamos é relativamente fácil de ser produzido. Queremos comercializar a camisinha em dois ou três anos, com um preço menor ou pelo menos igual ao da camisinha normal."
Novos Métodos Além da "camisinha invisível", novos métodos para impedir a transmissão de Aids e a gravidez estão sendo testados ou chegando ao mercado.
"Há pesquisas com microbicidas, que atuariam como os espermicidas, em forma de gel, pomadas ou cremes, matando o vírus HIV", afirma Rosenthal.
Já está sendo comercializada nos Estados Unidos, com o nome de Reality, e na Inglaterra, com o nome de Femme Shield, a camisinha feminina. Ela tem um aro nas duas pontas e é colocada dentro da vagina. "Os resultados tem mostrado que ela é mais eficaz. Na camisinha masculina, a falha ocorre por culpa do parceiro, que não a coloca desde o início da relação ou põe de forma errada e a camisinha estoura. A mulher tende a colocar a camisinha de forma correta", afirma Nilson Roberto de Melo, 45, ginecologista do Hospital das Clínicas.
Ainda em fase de teste, há as camisinhas de filme plástico, mais finas que o látex, que não tirariam tanto a sensibilidade.

Texto Anterior: Sites da semana
Próximo Texto: O pecado faz ponto ao lado
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.