São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Malufistas ameaçam obstruir votação

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo Fernando Henrique Cardoso enfrentará um obstáculo a mais na tentativa de aprovar o fim da estabilidade do servidor público.
Líderes do PPB ameaçam obstruir a votação da reforma administrativa em represália ao menosprezo de líderes do PSDB à atuação do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf pela aprovação da reforma.
O líder em exercício do PPB na Câmara, Wigberto Tartuce (DF), propôs a obstrução a Maluf no sábado à tarde.
O deputado disse à Folha que recebeu o sinal verde do presidente nacional do partido para tocar adiante a nova estratégia.
"Sem os votos do PPB, o governo não aprova reforma nenhuma. E o partido agora tem comando", disse ontem Tartuce.
O PPB contribuiu com 59 votos no segundo turno da reforma administrativa. Maluf teria virado 22 votos no partido.
Desprezo tucano
Após a votação na quarta-feira, porém, diante da sobra de 43 votos, os tucanos desdenhavam a participação do pepebista na articulação governista.
"Acho que ele ajudou só com uns dez votos. O restante votaria de qualquer forma", disse o deputado José Aníbal (PSDB-SP).
Ele acrescentou que, "se o PPB tivesse dado só os 39 votos que vinha dando até a semana anterior, ainda assim a emenda seria aprovada". "Ou seja, mesmo sem o apoio do Maluf, nós ganharíamos de qualquer jeito", afirmou.
O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) disse que é limitado o poder de Maluf em inverter votos do PPB a favor da reforma administrativa. "Por que não mandam o Maluf mudar o voto do Arnaldo Faria de Sá? Isso ele não consegue." Faria de Sá votou contra a reforma administrativa temendo prejuízos eleitorais em 98.
"Pode tocar"
Tartuce liderou a rebelião do PPB a partir do sábado, quando assumiu interinamente a liderança da bancada. Aproveitou a sessão extraordinária do Congresso e conversou com os deputados pepebistas Vadão Gomes (SP), Pedro Correa (PE) e Fetter Junior (RS).
Depois, ligou para o escritório de Maluf em São Paulo. O presidente do partido estava no interior de São Paulo, mas recebeu o recado.
Ligou para Tartuce às 15h30 e disse que concordava com a estratégia: "Pode tocar a obstrução", teria dito Maluf, segundo relato do deputado pepebista.
Tartuce disse que o partido não vai votar contra a reforma, mas vai obstruir a votação até que o governo reconheça formalmente a importância da articulação de Maluf.
Dissidentes
A estratégia do PPB será facilitada porque o governo deverá ter muitos dissidentes na votação do dispositivo da quebra da estabilidade dos servidores públicos.
Os líderes governistas identificaram pelo menos 45 deputados que votaram a favor do texto básico e que agora podem votar contra o governo.
Reportagem da Folha publicada no sábado mostrou que muitos dos deputados que viraram o voto em relação ao primeiro turno e ajudaram o governo a aprovar a reforma agora votarão contra a quebra da estabilidade.
Tartuce afirmou que Maluf usou essa tática para virar votos no partido. "Dos 22 do PPB que mudaram o voto, pelo menos 10 avisaram que votarão contra a quebra da estabilidade. O Maluf aceitou isso para aprovar o texto básico."

Texto Anterior: FHC pede apoio da comunidade judaica
Próximo Texto: Líderes fazem blitz para passar reformas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.