São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Ação do Pão de Açúcar é exceção do varejo

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de varejo está riscado da lista de recomendação de compra dos analistas de mercado no momento.
A elevação dos juros e as medidas fiscais editadas pelo governo pretendem frear o consumo e devem acertar em cheio as empresas de varejo, colocando um breque no seu desempenho.
Mas, se apesar disso, for para falar bem de algum papel de varejo listado na Bolsa, o escolhido é o Pão de Açúcar.
A primeira razão para isso é que o grupo Pão de Açúcar está posicionado na melhor fatia do varejo dentro do cenário atual. Roberto Arraes, sócio-diretor da Previsa, explica que empresas como Globex e Arapuã, que comercializam eletroeletrônicos, serão as primeiras a sentir o peso das medidas. Ele classifica como "intermediário" em termos do impacto das medidas, o setor de confecções.
"Mas, certamente, o segmento que comercializa alimentos será o que vai sofrer menos", diz Arraes.
"O mix de produtos pode ficar mais pobre, mas as pessoas não deixam de frequentar os supermercados", diz a analista do banco Bozano, Simonsen, Daniella Harnist.
Além dessa posição privilegiada, o Pão de Açúcar é elogiado pelos analistas pela sua confortável situação financeira.
"O setor não é o melhor que existe hoje, mas a empresa está bem", diz o analista do Banco Fator, Pérsio Dangot, que recomenda a compra de Pão de Açúcar PN.
As análises chamam atenção para o agressivo programa de investimentos do grupo, que inclui os supermercados Pão de Açúcar, Extra e Superbox e a loja de eletroeletrônicos Eletro.
O grupo programou investimentos de R$ 700 milhões para o biênio 97 e 98. Cumpriu a primeira etapa e, apesar das medidas de restrição ao consumo, manteve os planos para o próximo ano, segundo os analistas.
Para financiar os investimentos de 98, a empresa acaba de aprovar um empréstimo de R$ 300 milhões junto ao BNDES. "Além do empréstimo, o Pão de Açúcar tem mais dinheiro em caixa por conta de uma captação com emissão de ações feita na metade do ano", diz Pérsio Dangot.
Segundo os analistas, por estar bem capitalizada, a empresa está se beneficiando da forte elevação dos juros, ao aplicar seu caixa. A inadimplência também não preocupa tanto. "Cerca de 50% das vendas são feitas à vista e boa parte em ticket e cartão de crédito. Cerca de 20% é vendido com cheque pré-datado, cuja inadimplência é mais baixa", diz Daniella, do Bozano.
Segundo ela, apenas a Eletro utiliza o crediário, mas a empresa representa menos de 10% dos negócios do grupo.
Alguns analistas acreditam que as ações do Pão de Açúcar foram muito penalizadas durante a crise financeira e enxergam aí uma boa oportunidade de compra.
É o caso da analista do Bozano, que mudou sua recomendação de "vender" para "comprar".
Há 30 dias, Pão de Açúcar PN estava cotada a R$ 27,50 o lote de mil. A partir daí começou a despencar e no dia 13 de novembro bateu em R$ 13,70, acumulando desvalorização de 50%.
Na sexta-feira, o papel fechou a R$ 17,90. Para a analista do Bozano, a ação ainda pode subir 25% para atingir seu preço justo.
O Unibanco adotou uma postura mais conservadora, no sentido aposto à do Bozano.
Mudou sua recomendação de Pão de Açúcar de "comprar" para "manter" logo depois do aumento dos juros.
"Não temos dúvidas em relação à empresa. A medida é conservadora e vale para todo o setor de varejo", diz a analista do Unibanco, Fátima Sacco.
Ela ressalva que, " se é para ter alguma exposição do setor de varejo, Pão de Açúcar é a opção".

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