São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Exposição reúne arte alemã do pós-guerra

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Acontece na capital alemã, até 11 de janeiro, uma das maiores exposições já realizadas sobre a arte germânica do pós-guerra.
"Imagens da Alemanha - Arte de um país dividido" é o título do evento, que apresenta cerca de 500 obras, a maioria pinturas e instalações.
Ali estão trabalhos inéditos dos artistas plásticos alemães Paul Klee (1879-1940) e Joseph Beuys (1921-1986).
O trauma do nazismo aparece como eixo da exposição. "Ele está presente no trabalho de todas as gerações de artistas alemães, tanto dos ocidentais como dos orientais, até hoje," afirma o curador, Eckhart Gillen.
Holocausto
O objetivo do evento, segundo o curador, é mostrar, de forma cronológica, como os artistas alemães reagiram, individualmente, ao nazismo e ao holocausto, acontecimentos que chama de "ruptura da civilização".
Para Gillen, a divisão da Alemanha não teria começado em 1945, quando acabou a Segunda Guerra Mundial, mas em 1933, quando Adolf Hitler subiu ao poder.
"Cortado da Lista" (1933), de Paul Klee, traduz o espírito daquela época, quando muitos artistas foram proscritos, obrigados a deixar o país ou a se exilar interiormente.
Foram os casos de Klee e Max Ernst, que partiram para a Suíça e a França, respectivamente.
Abre a exposição o apocalíptico "Anjo de Casa" (1937), de Max Ernst, uma metáfora do perigo representado pelo fascismo.
"Naquele tempo, os membros desintegrados se chamavam alemães do reino e emigrantes. Hoje, eles se chamam alemães orientais e ocidentais", diz Gillen, numa menção à divisão social ainda presente na Alemanha unificada.
Os trabalhos dos 91 artistas representados na exposição, porém, não refletem, segundo o curador, uma contraposição entre alemães orientais e ocidentais, mas correspondências e paralelos.
Até os anos 60, por exemplo, uma espécie de repressão dominou as artes plásticas nas duas Alemanhas.
Esta repressão se manifestou, do lado ocidental, no abstracionismo, como mostram as obras de Willi Baumeister. Do lado oriental, na pintura figurativa, característica da escola de Berlim Oriental, cujos expoentes são Harald Metzkes e Manfred Bõttcher.
A exposição também apresenta obras de Joseph Beuys que têm o extermínio de judeus durante o nazismo como ponto de partida.
Pela primeira vez estão expostos rascunhos, feitos pelo artista em 1957, de um monumento para o campo de extermínio de Ausschwitz (Polônia).
"Imagens da Alemanha" acontece no centro de exposições "Martin-Gropius-Bau", uma construção do fim do século passado, localizada no centro de Berlim.
Em 1933, quando os nazistas chegaram ao poder, esse centro tornou-se o quartel-general da Gestapo, a polícia política de Adolph Hitler.
Hoje, o "Martin-Gropius-Bau" acolhe, entre outras instituições, o Museu Judaico de Berlim.

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