São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Filme traz luta do IRA ao seio materno

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A Irlanda do Norte também teve seus "homens do cobertor". Mas não eram os mendigos que andam pelas ruas, no inverno de São Paulo, enrolados em cobertores que ocultam facas, cacos de vidro e outros objetos cortantes.
Lá, o "protesto do cobertor" nasceu dentro das prisões, em meados da década de 70, e foi um movimento liderado por membros do IRA (Exército Republicano Irlandês) condenados por terrorismo.
O protesto, que deu ampla visibilidade internacional ao IRA, é o assunto deste filme de estréia do diretor Terry George, ele mesmo norte-irlandês e parceiro de Jim Sheridan ("Em Nome do Pai") em outras produções que tratam do mesmo tema.
"Mães em Luta" é baseado na história real de Kieran Nugent, primeiro membro do IRA condenado e preso em Belfast, capital da Irlanda do Norte, em 1976, pelo regime britânico de Margaret Thatcher, que dissolvera o parlamento irlandês.
O parlamento, criado em 1952 para ter autonomia do governo de Londres, tinha sido dissolvido pela Grã-Bretanha em 1973, depois de violentos conflitos ocorridos entre a maioria protestante e a minoria católica.
Os protestantes apoiavam a união da Irlanda do Norte com a Grã-Bretanha, ao passo que os católicos defendiam a união com a República da Irlanda (a outra Irlanda, que não pertence ao Reino Unido).
A criação da república irlandesa unificada é até hoje o objetivo tanto do Exército Republicano Irlandês quanto do Sinn Fein, partido político ou voz política do movimento terrorista.
O prisioneiro Kieran Nugent, então com 23 anos e condenado pelo roubo de um automóvel numa ação terrorista, exigiu tratamento de prisioneiro político e não de criminoso comum. Para tanto, recusou-se a vestir o uniforme da prisão e pediu roupas civis.
Como não foi atendido, passou a andar enrolado na toalha e no cobertor da cela, no que foi seguido por centenas de outros prisioneiros. O protesto duraria mais de dois anos e levaria as condições de higiene na prisão à situação de calamidade.
Os presos, que se recusavam a tomar banho para não molhar a toalha que usavam como roupa, sofriam represálias dos carcereiros, que despejavam o conteúdo dos urinóis no chão das celas.
O filme de Terry George traz todo esse complexo pano de fundo político para o seio da família, mais especificamente para a comovente relação entre as mães e seus filhos homens que estavam na prisão.
No centro da ação estão duas dessas mães, Kathleen Quigley (Helen Mirren) e Annie Higgins (Fionnula Flanagan). A primeira, uma professora algo alienada e contra as ações violentas do terrorismo. A outra, engajada na luta do movimento até o fim, mesmo que uma prolongada greve de fome na prisão possa levar seu filho à morte.
Ajudado pelo bom desempenho das duas atrizes, Terry George conseguiu trazer a luta do IRA para o seio do matriarcado, estendendo-a para um confronto de mulheres (as mães e irmãs dos presos) contra a mulher -a dama de ferro Margaret Thatcher.
A cena do sapateado das meninas na escola é acertado símbolo desse exército feminino irlandês em luta.

Vídeo: Mães em Luta
Produção: Irlanda, 1995
Direção: Terry George
Elenco: Fionnula Flanagan, Helen Mirren, Aidan Gillen
Lançamento: Columbia (tel. 5505-3836)

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