São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

UM ÔNIBUS PARA O TERROR

A chacina de pelo menos 67 pessoas no Egito evidencia mais uma vez a aparente contradição que cerca o terrorismo islâmico. Em nome de Deus e do islamismo -que como qualquer religião condena a violência- terroristas investem contra pessoas inocentes e, ademais, alheias aos problemas do país.
Muitos desses militantes, não só no Egito como também em outros países, pertencem a organizações que começaram com atividades de cunho assistencialista -como no caso do Hamas palestino, por exemplo. Num quadro de autoritarismo político, comum em países islâmicos, tais movimentos se tornaram válvulas de escape para pressões sociais de grupos economicamente marginalizados.
Essa tendência à união entre religião e política ficou ainda mais intensa à medida que a oposição naqueles países procurava pespegar aos governos a imagem de aliados do Ocidente e cúmplices de Israel. A derrubada do regime, por quaisquer meios, torna-se uma missão religiosa sem limites, uma questão de fé.
No Egito, os principais grupos terroristas fazem de turistas estrangeiros seu alvo para desestabilizar o regime de Hosni Mubarak -laico, pró-ocidental e que tem no turismo uma fonte essencial de divisas. Tudo para instalar uma república islâmica que imponha a doutrina do Corão, naturalmente interpretada pelos próprios radicais, ao cotidiano social, econômico e político do país.
Também na Europa a intolerância em nome de crenças religiosas tem provocado conflitos sangrentos. Irlanda do Norte e Bósnia são os exemplos mais recentes dessa mescla de disputas políticas e desavenças religiosas. Infelizmente, a radicalização parece obedecer à mesma e perversa dinâmica, repetida várias vezes no processo de paz no Oriente Médio.
À tentativa de negociação se seguem atentados que tentam boicotar a paz, o que cria mais instabilidade e ódio. Enquanto Estado e religião se misturarem, radicais continuarão a fazer vítimas inocentes, retrato do fracasso da coexistência pacífica de crenças diferentes.

Texto Anterior: SERINGAS, AIDS E DROGAS
Próximo Texto: O Nada mora aqui
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.