São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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O Nada mora aqui

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Sim, o Nada tem domicílio em São Paulo. Despacha no prédio da prefeitura. Chama-se Celso Pitta. Experimente-se alcançá-lo com os olhos. Tente-se enxergá-lo em seu assento. Inútil. O olhar atravessa o Nada e vai bater no couro do espaldar da poltrona.
Paulo Maluf queria um sucessor invisível, que não lhe fizesse sombra. Exagerou, exagerou. Após expiar a culpa dos precatórios, o prefeito do Nada digere calado o legado de dívidas do antecessor.
Celso Nada Pitta não comanda a cidade com a cabeça. Ele governa com a barriga. Há problemas? Tudo bem. O prefeito os empurrará com a barriga.
Há obras paralisadas? Barriga nelas. As enchentes estão chegando? Barriga. O PAS está definhando? Barriga. As ruas estão esburacadas? Barriga. Isso? Barriga. Aquilo? Barriga novamente.
Semana passada, um dos secretários de Celso Coisa Nenhuma Pitta tentou inovar. Cansado de valer-se da pança como ferramenta de gestão, Alfredo Savelli usou a boca. Ele disse: a cidade está suja porque "a população é porca".
Justificou-se no dia seguinte: "Usei uma frase de impacto, dita de forma simples, que criasse polêmica e fizesse a população pensar no assunto". Na administração do Nada é assim: o sujeito recebe um certo salário. Em troca, deveria cumprir com suas obrigações. Não cumpre. E acha que pode acomodar a culpa nos ombros de quem paga os seus vencimentos.
Savelli se arrisca a ouvir de um contribuinte em dia com o IPTU uma "frase de impacto", que o leve à reflexão. Algo assim: "A cidade está suja porque o sr. secretário e seus colegas são incompetentes. E a folha de salários da prefeitura não é lugar para ineptos".
A imobilidade do prefeito Celso Vazio Pitta tonifica a impressão de que a febre de obras da gestão Maluf, se serviu para eleger o Nada, também serviu para quebrar o município, hoje em petição de miséria.

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