São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997 |
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Tarifa de embarque motiva reclamações
MARISTELA DO VALLE
"O governo está sendo incoerente", diz o vice-presidente da Braztoa/Cobrat (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Tasso Gadzanis, eleito presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem de São Paulo (Abav-SP) na última quinta-feira. "O presidente da Embratur está em Londres para tentar trazer os ingleses para o Brasil, mas o governo aumenta a taxa de embarque, o que afasta os estrangeiros que saem do país." Na semana passada, Caio Luiz de Carvalho, o presidente da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), órgão vinculado ao governo federal, estava realizando palestras em Londres para divulgar o Brasil. Gadzanis concorda com a posição da Abav nacional, manifestada em documento enviado pela entidade ao governo. O documento reivindica que estrangeiros fiquem isentos dessa taxa de embarque, que é a maior do mundo. Para o presidente do Club Med para a América do Sul, Janyck Daudet, as medidas do governo são despropositadas, pois o Brasil vai ficar ainda mais caro para os estrangeiros. O presidente do Sindetur (Sindicato das Empresas de Turismo), Eduardo Nascimento, diz considerar o aumento um imposto disfarçado. Segundo ele, alguns argentinos pagarão cerca de 30% a mais para vir ao Brasil e podem desistir. A medida também prejudicaria as empresas que vendem pacotes para o Mercosul. "Em algumas viagens para o Uruguai e a Argentina, a taxa de embarque será equivalente a 40% do valor do bilhete", diz Antonio Aulisio, presidente da Braztoa/Cobrat (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo). Mas a intenção do governo é exatamente tentar inibir a ida de passageiros ao exterior, pois a quantidade de brasileiros que sai do país é muito maior do que a de turistas que entra, segundo o diretor de Economia e Fomento da Embratur, Bismarck Maia. "É preciso entender que estamos num momento delicado." O Ministério da Fazenda informou que está estudando uma alternativa que não prejudique o turismo no Mercosul. Ilegalidade Além desses problemas, o aumento da taxa de embarque é ilegal, de acordo com o presidente da Abav nacional, Sérgio Nogueira. Segundo ele, a taxa de embarque deve ser utilizada para pagar serviços e gastos dos aeroportos e não pode ser repassada para o governo. Nogueira também afirma que o impacto do pacote será forte porque vai gerar um número grande de cancelamentos de viagens. Para Nascimento, o pacote tem efeito inflacionário, pois as empresas que pagam viagens para seus funcionários devem repassar as diferenças de custos para o produto final. "Esse pacote é um monte de bobagens e tem medidas inúteis. Parece que o governo só quer mostrar que está fazendo algo." Outro problema apontado pelos empresários está relacionado aos pacotes já vendidos a clientes, cujos bilhetes ainda não foram emitidos. Aulisio considera que as empresas temem ter de pagar a diferença entre a taxa atual e a futura. Gadzanis diz considerar ainda que, entre os turistas brasileiros, a medida afeta apenas a classe média. Segundo ele, o governo que parece resolver os problemas econômicos da classe média é o mesmo que depois a prejudica. O empresário relata que alguns de seus clientes, que viajam em família, acabam pagando pela taxa de embarque o equivalente a metade de uma passagem aérea. Sem efeitos Outros empresários do setor turístico dizem não acreditar que a tarifa atrapalhe as viagens daqueles que já as programaram. É o caso de Marcos Arbaitman, presidente da Maringá Turismo. "Ninguém vai deixar de viajar por causa de US$ 72", diz. Para ele, a medida está dentro do contexto das reformas necessárias para a estabilização da economia. "Tenho certeza de que, até março, a tarifa volta a custar US$ 18." Ele diz não achar justo, porém, que o turista que vai à Argentina pague a mesma taxa que aquele que viaja à Europa. A Vasp também afirma que a nova taxa não é motivo para cancelamentos. Mas a companhia considera que nenhum aumento é bem- vindo e, assim como o cidadão, a empresa também é punida. Eliane Porto, diretora da Hostelling International, representante dos albergues da juventude, também diz não considerar que a taxa de embarque seja tão problemática, pois os estudantes que vão para o exterior planejam a viagem com muita antecedência. Também o STB (Student Travel Bureau), empresa especializada em intercâmbio para estudantes, afirmou que suas vendas não caíram por causa do pacote e verificou que muitos passageiros se apressaram em pagar a taxa de embarque de bilhetes já reservados. Turismo interno "O aumento da taxa de embarque pode ter reflexos positivos para o turismo interno", diz Roland de Bonadona, diretor-geral da Accor Brasil Hotelaria. Para ele, alguns turistas podem trocar viagens internacionais por domésticas. Robert Betenson, do Refúgio Ecológico Caiman (no Pantanal), concorda com ele. "Eu acho que o perfil dos meus clientes vai mudar. Os estrangeiros deixarão de vir, e os brasileiros que iam para a Costa Rica, por exemplo, podem considerar o Pantanal mais barato." Mas outros empresários do setor discordam dessa tendência, como Janyck Daudet. "O Brasil tem lugares lindos e não seria um sacrifício trocar o mar do Caribe pelas praias do Nordeste. Mas o que atrapalha são os preços das passagens aéreas internas." Texto Anterior: Argélia dificulta visita ao Saara Próximo Texto: O pacote e o turismo Índice |
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