São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CE suspende produção de soro suspeito

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O secretário da Saúde do Ceará, Anastácio Queiroz, determinou ontem a interdição na produção de todos os tipos de soros do laboratório Endomed, responsável pela fabricação do soro Ringer Lactato, que pode ter causado a morte de 22 pessoas nos Estados de Ceará e Pernambuco.
A interdição, segundo Queiroz, foi baseada num relatório feito por uma comissão de técnicos das secretarias da Saúde do Ceará, Pernambuco e Bahia e Ministério da Saúde, que analisou amostras do soro usado em cerca de 400 pacientes desses Estados.
Segundo Queiroz, foi constatada a presença de uma substância estranha à composição química do soro Ringer Lactato, capaz de acelerar o processo de coagulação sanguínea dos pacientes, ocasionando as mortes.
Sem identificação
Queiroz disse que a análise dos técnicos ainda não conseguiu identificar o tipo da substância encontrada, mas que não há dúvidas de que ela foi a causadora da morte dos pacientes.
A identificação da substância deverá ficar a cargo de um laboratório dos Estados Unidos e será divulgada nos próximos 15 dias, disse Queiroz.
Segundo o secretário, a tese mais provável é que a substância seja originária da matéria-prima usada na fabricação do soro.
Queiroz disse que a Vigilância Sanitária do Ceará fez inspeções sucessivas nas instalações do laboratório, em Eusébio (região metropolitana de Fortaleza), e não encontrou irregularidades.
Segundo Queiroz, a interdição da produção do soro foi uma medida preventiva e vigorará até que a substância seja identificada. Disse que a sua pasta não tem estrutura para recolher toda a produção do soro já distribuída e recomendou o cancelamento imediato do seu uso.
Queiroz afirmou que a interdição não significa que o laboratório seja penalmente responsabilizado pelas mortes ocorridas.
"Ainda não temos elementos que comprovem que o laboratório foi o culpado pela contaminação do soro", disse Queiroz.
Outro lado
O diretor do Endomed, João Pedrenelli, considerou um absurdo a interdição do laboratório e disse que vai entrar com um mandado judicial para garantir o funcionamento da indústria.
"Todas as análises e inspeções feitas em nosso laboratório comprovaram que nós não tivemos culpa. De repente, aparece uma comissão dizendo que encontrou uma substância, que nem mesmo eles conseguiram identificar", diz Pedrenelli.
O diretor do Endomed disse que o laboratório está no mercado há dez anos e que nunca recebeu qualquer notificação de irregularidade na sua linha de produção.
Segundo Pedrenelli, a interdição foi toda baseada em hipóteses e não tem caráter conclusivo.
"Estamos sendo vítimas de especulações e nossa saúde econômica está seriamente abalada por causa disso", diz Pedrenelli.
A produção de soro, segundo Pedrenelli, é responsável por 75% do faturamento do Endomed, que teve um faturamento de R$ 10 milhões, em 1996.
Ele disse que o laboratório deverá demitir metade dos seus 300 funcionários em função de redução de suas encomendas -calculada em 60% nos últimos 30 dias.

Texto Anterior: Exame reduz câncer de mama grave
Próximo Texto: Anestesistas denunciaram
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.