São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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"Fosca" integral chega primeiro a Sófia

CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A SÓFIA

Hoje, pela primeira vez na história, a versão final da ópera "Fosca", de Carlos Gomes, será encenada na íntegra. Não em Campinas, onde o compositor nasceu em 1836, nem em Belém do Pará, cidade em que morreu em 1896, nem em Milão, onde se projetou mundialmente.
É a Bulgária que assiste hoje pela primeira vez a versão definitiva da quarta ópera de Gomes, considerada por muitos a sua mais importante. Entre as 18h (14h em Brasília) e as 21h15 (17h15 em Brasília), os espectadores que ocuparem os 800 lugares (todos vendidos) do teatro da Ópera Nacional da Bulgária acompanharão a história da pirata corsária Fosca.
O compositor disse certa vez: "'O Guarani' para os brasileiros, 'Salvador Rosa' para os italianos, e 'Fosca' para os entendidos".
Essa complexidade da obra se reflete no número tímido de montagens. Segundo o maestro Luiz Aguiar, que acompanha a montagem da ópera em Sófia, "Fosca" só foi vista quatro vezes no Brasil.
A ópera, que Carlos Gomes escreveu em 1873, na Itália, não é encenada na Europa há 107 anos, quando foi apresentada no teatro alla Scala, em Milão.
Gomes foi o compositor que teve mais montagens de suas óperas nesse teatro, na década de 70 do século 19. Só perdeu para Verdi, a quem Carlos Gomes só colocava acima de Deus em sua escala pessoal.
Globalização cultural
A montagem de "Fosca" que será apresentada hoje em Sófia ilustra aquilo que o presidente da Funarte, Márcio Souza, chama de "globalização cultural".
"Essa 'Fosca' não é búlgara nem brasileira. É uma ópera de um compositor brasileiro escrita na Itália e em italiano, com cenógrafo e figurino italiano, regida por um brasileiro, dirigida por um búlgaro, cantada por uma norte-americana que vive na Holanda e cantores búlgaros. Será gravada por italianos, brasileiros e búlgaros e exibida para milhares de pessoas em todo o mundo", diz Cleber Papa, diretor-geral da montagem e diretor da São Paulo ImagemData.
A empresa desenvolve um projeto de "colocar" a vida de Gomes em evidência, montando todas as suas óperas.
No ano passado, montou "O Guarani" na mesma Ópera Nacional da Bulgária, em Sófia. Desde então, "O Guarani" já foi encenado 20 vezes pela companhia búlgara em diversos países da Europa.
Papa explica que ter Carlos Gomes no seu repertório é um trunfo, porque poucas companhias têm versões do compositor brasileiro. "De óperas de Verdi ou Puccini, todas as companhias têm versões. Carlos Gomes é um diferencial", diz Papa.
A partir de abril, essa montagem de "Fosca" chegará ao Brasil. A Funarte deve levar o espetáculo para Belém, São Luís, João Pessoa, Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Márcio Souza diz que será levada ao Brasil a mesma estrutura apresentada na Bulgária: um cenário de quatro toneladas e 425 figurinos criados pelo italiano Salvatore Russo. Na Bulgária, "Fosca" está sendo vivida pela cantora norte-americana Gail Gilmore. No Brasil, Márcio Souza pretende organizar uma audição pública para escolher solistas brasileiros.
O canal de TV paga Bravo Brasil exibe "Fosca" como especial natalino.

O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Funarte.

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