São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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FHC critica especuladores, mas omite que real depende deles

GUSTAVO PATÚ; LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso satanizou ontem os especuladores do mercado financeiro, ao responder a perguntas sobre a crise econômica e o pacote fiscal no programa político do PSDB veiculado pela televisão na noite de ontem.
Os especuladores foram descritos como "inimigos do real". "O especulador não serve para nada, só serve para atrapalhar."
FHC omitiu que o dinheiro trazido pelos especuladores serve para cobrir o buraco das contas externas do país, como o déficit da balança comercial que surgiu com o Plano Real e deve ficar entre US$ 9 bilhões e US$ 10 bilhões neste ano.
Em outubro, em função da crise financeira internacional, investidores fizeram compras maciças de dólares no Brasil, fazendo as reservas do Banco Central perderem cerca de US$ 8 bilhões.
Esses investidores ou precisaram cobrir perdas que tiveram em outras partes do mundo ou acreditaram que o real poderia ser desvalorizado em relação do dólar -medida que provocaria inflação, mas é defendida por alguns economistas como forma de melhorar as exportações.
Para conter a perda de reservas, o governo dobrou as taxas de juros, uma forma de manter os dólares dos especuladores aplicados no Brasil. A medida foi necessária, justamente, porque o país depende do capital especulativo.
Nas palavras de FHC ontem, com a alta de juros, o governo ergueu um "paredão" para proteger o real. "Perde o especulador, e tomara que perca mesmo."
Usando de otimismo, o presidente respondeu a perguntas feitas por comerciantes, servidores, estudantes e donas de casa.
Disse que as medidas já adotadas pelo governo -além da alta de juros, foram elevados impostos e os preços dos combustíveis- serão suficientes para conter a crise -que, ressaltou FHC, começou na Ásia, não no Brasil.
Ou, segundo a metáfora aplicada, foi um "raio" ou uma "borrasca" num "dia de céu azul", em referência ao momento que o país vivia até então.
Pronunciamento
O presidente vai fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, domingo à noite, para defender o pacote de ajuste fiscal, segundo o líder do PSDB, deputado Aécio Neves (MG).
Aécio esteve com FHC ontem de manhã. O presidente também vai falar da importância da aprovação da reforma administrativa pela Câmara dos Deputados.
Depois de mais de dois anos de tramitação, a Câmara concluiu anteontem a votação da reforma, que será enviada ao Senado na próxima semana, para mais dois turnos de votação.
No pronunciamento, FHC vai dizer à população que as medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo governo são importantes para a estabilidade do real. O presidente também vai convocar os parlamentares a aprovarem o pacote.
Setores do Congresso resistem a medidas do pacote, como o aumento do Imposto de Renda da Pessoa Física e o corte nos incentivos fiscais para as regiões Norte e Nordeste. As resistências estão principalmente no PFL.
O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), é contra o aumento do Imposto de Renda.
As críticas de ACM desagradaram ao Palácio do Planalto, afetando seu relacionamento político com o presidente.
(GUSTAVO PATÚ E LUIZA DAMÉ)

Colaborou a Sucursal de Brasília

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