São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Deputado diz que Planalto ameaça retaliação por voto

LUCIO VAZ
LUIZA DAMÉ

LUCIO VAZ; LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Petebista afirma ter sido comunicado por assessor da Presidência

O deputado Francisco Rodrigues (PTB-RR) disse à Folha ontem que sofrerá retaliações do Palácio do Planalto por ter votado contra a quebra da estabilidade do servidor público, como queria o governo.
Rodrigues telefonou ontem pela manhã para o subsecretário-geral da Presidência da República, Guido Faria, para saber da liberação de recursos para emendas suas.
Segundo relato do deputado, Guido informou-lhe da retaliação: "Olha, deputado, agora fica difícil para você, porque você votou contra a estabilidade".
Rodrigues argumentou que tem votado sistematicamente com o governo. Depois, explicou que votou contra a estabilidade devido a uma questão regional.
"No meu Estado, temos 12 mil servidores na ativa e mais 9.000 inativos. Não posso votar contra o interesse dos servidores", justificou o deputado. Ele pensa em disputar uma vaga no Senado em 98.
Rodrigues apresentou emendas ao Orçamento deste ano no valor de R$ 4,25 milhões. As quatro de maior valor (R$ 3,65 milhões) estão camufladas como emendas coletivas. Foram assinadas pela bancada, mas são de sua autoria.
As emendas destinam-se à construção de unidades habitacionais, escolas, rede de águas fluviais e unidades sanitárias e à compra de material para escolas em seis municípios de Roraima (Cantá, São Luiz Anauá, Normandia, São João da Baliza, Bomfim e Caroebe).
O líder do PTB na Câmara, Paulo Heslander (MG), procurado pela Folha ontem, disse que vai solicitar ao Palácio do Planalto a confirmação das informações transmitidas pelo deputado.
Heslander disse que a atitude do Palácio pode até estar correta do ponto de vista político. O líder não concorda com a maneira como está sendo conduzida. "Esse tipo de decisão teria de ser tomada depois de consultarem os líderes dos partidos da base", afirmou.
Heslander disse que liberou Rodrigues para votar contra a estabilidade. "A base política do deputado é de servidores públicos", justificou.
Outro lado
A assessoria de Imprensa do Palácio do Planalto confirmou, no início da noite de ontem, o diálogo entre Faria e Rodrigues. Segundo a assessoria, o deputado telefonou cobrando a liberação de R$ 2 milhões em emendas de sua autoria.
Ao saber que as emendas não estavam liberadas, Rodrigues, de acordo com a assessoria, perguntou se o motivo era seu voto contrário à quebra da estabilidade por excesso de gastos com pessoal.
"Se você votou contra, por que está cobrando?" perguntou Faria a Rodrigues, conforme relato da assessoria do Planalto. O secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas, mandou dizer, por intermédio da assessoria, que a orientação do governo não é essa.

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