São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Futuro ameaçado

WEBSTER RENÊ BELCHIOR

Alimentação, saúde, escola, moradia, orientação e afeto constituem a atenção mínima que uma criança requisita para crescer saudável e exercitar a cidadania. Porém grande parte das nações trata a infância com incompreensível displicência.
São milhões de menores abandonados e/ou carentes, cujo futuro está precocemente escrito pelo descaso das autoridades e da sociedade. Essa situação permite prever o aumento, nas próximas décadas, do número de excluídos e o agravamento das tensões sociais.
Indicadores atestam a precária condição de vida presente dos adultos da primeira década do século 21. Mais de 1 milhão de menores se prostitui a cada ano, em todo o mundo, indica relatório do Unicef. Na Índia, há 500 mil crianças prostituídas, na Tailândia, 800 mil, no Brasil, 500 mil.
Esse flagelo não é um estigma apenas do Terceiro Mundo ou das potências emergentes. Nos EUA, há 300 mil menores sendo explorados sexualmente; no Japão, revela a polícia, 8% das estudantes de 12 a 17 anos estão se prostituindo. Na Europa, surgem denúncias graves, como a descoberta, em 1996, de uma rede de tráfico de menores com núcleo na Bélgica.
O mais estarrecedor é o fato de haver oportunistas explorando a exclusão social da infância para manter uma sórdida indústria, que somente na Tailândia movimenta US$ 1,5 bilhão/ano.
O turismo sexual, num fluxo do Primeiro para o Terceiro Mundo, também é uma realidade dolorosa. Não se deve esquecer, ainda, que a existência de um vasto mercado ávido pela prostituição infantil denuncia a deformação moral e psicológica de milhares de adultos, que compram favores sexuais de crianças famintas e abandonadas.
Não bastasse esse absurdo, milhões de crianças em vários países são expostas ao trabalho precoce.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) indica que 3,5 milhões de brasileiros menores de 14 anos exercem atividades insalubres, cumprindo jornada de trabalho superior a 44 horas semanais e recebendo menos do que um salário mínimo.
A infância abandonada é uma porta aberta para drogas, criminalidade e violência. É preciso reverter seu destino, pois essa situação é uma real ameaça ao futuro. O Estado, a família, a escola e a sociedade civil têm papel fundamental nesse processo.
Também é importante o engajamento de todos os que influenciam o comportamento da juventude, como atletas, artistas, cantores e grupos musicais, que são exemplos para milhões de crianças e adolescentes. Trata-se de uma grande responsabilidade, da qual ninguém pode omitir-se.

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