São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Multidão ameaça invadir clínica e linchar acusada de infanticídio

Mulher teria dado à luz em avião e asfixiado o bebê

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Cerca de 150 pessoas, segundo a polícia de Porto Seguro (BA), ameaçaram ontem invadir a clínica Amep (Associação Médica de Porto Seguro) e linchar a agente de cobranças Carla Andréia Dato, 24.
A agente de cobranças é acusada de matar por asfixia seu próprio filho, que nasceu na última terça-feira em um vôo da Nordeste Linhas Aéreas de São Paulo para Salvador.
Para preservar a segurança da acusada, a delegada Eliana Teles pediu reforço policial. Durante todo o dia de ontem 18 policiais -12 militares e seis civis- permaneceram de plantão em frente à clínica.
"A população de Porto Seguro está muito revoltada e temos que tomar muito cuidado para que não aconteça uma tragédia", disse a delegada. Carla Andréia Dato foi a única passageira a descer na escala que o avião fez em Porto Seguro.
Ela permanece internada em um apartamento da clínica Amep. Segundo funcionários, a agente de cobranças teve uma crise nervosa ontem pela manhã.
A polícia de Porto Seguro (705 km ao sul de Salvador) prendeu em flagrante a acusada -em seu apartamento, uma agente feminina permanece de plantão 24 horas.
"Ela vai sair da clínica para a prisão", disse a delegada Eliana Teles. A delegada disse também que vai pedir que Carla seja avaliada por um perito, caso ela permaneça internada por mais 24 horas.
"Não estamos desconfiando das informações médicas, mas queremos ter certeza absoluta da necessidade de sua internação."
A delegada suspeita que Carla queira ficar internada até que os ânimos na cidade se acalmem. No início da tarde de ontem, o juiz Otaviano Andrade de Souza Sobrinho revogou sua decisão de conceder um habeas corpus à acusada.
"Não sabia que o crime tinha sido cometido no espaço aéreo brasileiro que, pela Constituição, deve ser julgado pela Polícia Federal."
Laudo parcial do IML (Instituto Médico Legal) Nina Rodrigues, de Salvador, revela que a criança nasceu com vida e foi asfixiada com papel higiênico. O bebê tinha nove meses de gestação.
Depois de matar o filho, a agente de cobranças teria jogado o corpo dentro do vaso sanitário do banheiro do avião. A delegada Eliana Teles disse que conversou rapidamente ontem com Carla. "Ela estava muito confusa e disse que não se lembrava de nada."
Eliana Teles acrescentou que Carla poderá ser condenada a até seis anos de prisão. "A pena mínima para o crime é de dois anos", disse a delegada.

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