São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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SP pode sofrer novos surtos de infecções

FABIO SCHIVARTCHE e
LUCIA MARTINS

FABIO SCHIVARTCHE; LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Crise na saúde eleva risco de que surto que levou à morte de 12 bebês volte a acontecer em outro hospital da rede

O surto de infecção que levou à morte de 12 bebês no Hospital Vila Nova Cachoeirinha não foi um caso isolado e pode voltar a ocorrer em qualquer unidade de saúde de São Paulo.
A superlotação, o déficit de leitos, a falta de profissionais especializados e as falhas na fiscalização são os principais fatores de risco, presentes até nos hospitais considerados de excelência, como os universitários.
Os hospitais da cidade conveniados ao SUS oferecem hoje menos da metade do número suficiente de leitos de UTI neonatal (unidade de tratamento intensivo para recém-nascidos) para atender à demanda, segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde.
Há à disposição 140 leitos, quando o número ideal seria 320. Existe ainda déficit de 260 leitos para cuidados intermediários (bebês que estão em um estágio entre o berçário comum e a UTI). Existem apenas 300 disponíveis.
Os leitos especiais para bebês têm uma manutenção muito cara (mais que o triplo de um leito comum) e a maior parte é administrada pelos hospitais públicos. Cerca de 80% dos casos graves -consequentemente mais caros- são atendidos pelos hospitais públicos.
"A superlotação é a maior causa das infecções", diz o professor de obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, Antonio Azevedo.
Segundo ele, hoje esse risco é grande até nos hospitais considerados de referência. "O HC (Hospital das Clínicas), o Hospital Universitário e o Hospital São Paulo, todos estão sujeitos a surtos, porque a demanda é maior do que a capacidade de atendimento", afirma Azevedo, que trabalha no Hospital São Paulo.
A falta de fiscalização é outro fator que preocupa. Uma pesquisa feita pela Secretaria de Estado da Saúde na rede hospitalar pública de São Paulo, há dois anos, apontou que metade das comissões de controle hospitalar -instituídas por lei- estava incompleta.
"Em algumas faltavam farmacêuticos. Em outras, microbiologistas. É preciso que as comissões funcionem e cobrem dos hospitais os procedimentos corretos", diz o presidente da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares do Emílio Ribas, Nilton Cavalcante.
Para o professor-titular do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da USP Vicente Amato Neto, a falta de fiscalização é uma das principais causas. "A gente sabe que há deficiências na vigilância desses serviços de UTIs em São Paulo." O secretário da Saúde, José da Silva Guedes, afirma que os hospitais são fiscalizados pelo menos uma vez por ano.
Outro agente de transmissão de infecções em UTIs é a falta de profissionais. A norma manda que haja uma enfermeira especializada para cada quatro leitos, uma auxiliar para cada dois bebês e dois médicos plantonistas.
"Para a nossa capacidade, temos profissionais suficientes. Mas, quando há superlotação, também faltam pessoas", afirma o diretor clínico do Hospital do Campo Limpo, Marcelo Moock.

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