São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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'Grande Noitada' tenta juntar ópera e chanchada

JOSÉ GERALDO COUTO
DO ENVIADO ESPECIAL

"A Grande Noitada", de Denoy de Oliveira, exibido terça no Festival de Brasília, é uma corajosa tentativa de fundir duas tradições: a da grande ópera e a do humor popular. O resultado, se não entusiasmou o público, pelo menos não desagradou de todo, pois não houve vaias (até comuns em Brasília), só aplausos moderados.
O entrecho é fácil de ser resumido: Tristão Roque Brasil (Othon Bastos), um grande industrial e homem público, morre de infarto no motel ao lado da amante ocasional, a manicure Mimi (Silvia Pompeu), ex-presa que está em liberdade condicional.
Sem saber o que fazer com o corpo, Mimi recorre a dois amigos, o transformista Carlito (Luciano Chirolli) e o agente funerário e ventríloquo Cavernoso (Augusto Pompeu). Juntos, os três andam com o cadáver de Tristão para cima e para baixo, fazendo de conta que ele ainda está vivo.
Essa é a grande noitada a que, ironicamente, o título se refere. Na primeira parte, enquanto Tristão está vivo, predomina a encenação operística, com vários pastiches de árias famosas servindo à narração.
As referências não são nada sutis: os filhos de Tristão chamam-se Sigfrid, Parsifal e Fausto. A filha, Valquíria; a cachorra, Tosca.
Ouvem-se excertos ou paródias de "Tristão e Isolda", "La Bohéme", "Carmen" e uma série de outras óperas. Ao mesmo tempo, um humor chanchadesco e deliberadamente vulgar tenta fazer a ponte com o registro popular.
Depois da morte, o filme é invadido mais e mais por uma ambientação naturalista (avenidas e ruas do centro de São Paulo, cenário verista de boate) e dramaturgia mais "realista", marcada pelo entrecho policial e pela busca de consistência psicológica para as ações.
O esforço da produção é visível, a cenografia (de Rui de Oliveira) tem momentos inspirados, a fotografia (de Claudio Portioli) é esplêndida e a entrega dos atores chega a ser comovente. Mas, aparentemente, essa estética do excesso cansa o espectador, mais do que estimula ou diverte.
(JGC)

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