São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997 |
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Arte se movimenta entre globalização e fronteiras
CELSO FIORAVANTE
Coincidentemente, os três eventos mais importantes desse final de ano se desenvolvem em cidades e regiões que, historicamente, têm servido como rotas ou pontos de encontro de culturas distintas e, muitas vezes, beligerantes (veja quadros na página ao lado). Okwui Enwezor, o diretor artístico da 2ª bienal de Johannesburgo, na África do Sul, explicita os vários níveis deste escambo no título geral do evento que organiza -"Trade Routes: History, Geography and Culture" (Rotas de Comércio: História, Geografia e Cultura')- e também no título da mostra que ele próprio curou, em parceria com o espanhol Octavio Zaya: "Alternating Currents" (Correntes Alternadas). "O conceito básico da bienal de Johannesburgo é questionar conceitos da globalização, mas a globalização baseada em várias estruturas e na maneira como vem sendo articulada, principalmente por meio da iniciativa de capitais multinacionais. Nesse ponto em particular, tenta-se questionar a maneira como imperativos econômicos produziram consequências culturais globais por meio de processos de colonização, descolonização e uso de culturas nacionais", disse. Enwezor não se constrange em declarar que as questões estéticas levantadas em sua bienal estão contaminadas por conflitos políticas, relações sociais e tradições culturais e contestações econômicas. A bienal de Johannesburgo prossegue até 18 de janeiro e conta a participação de quatro artistas brasileiros: Rivane Neuenschwander, Rosângela Rennó, Valeska Soares e Cildo Meireles. A globalização e as questões de fronteiras são exacerbadas também no projeto de intervenção urbana InSITE 97, que se realiza até domingo na fronteira dos EUA e do México. O projeto convidou 42 artistas da América Latina, Caribe, EUA e Canadá para que criassem trabalhos específicos para espaços públicos das cidades de Tijuana (México) e San Diego (EUA). O Brasil comparece com quatro artistas: Iran do Espírito Santo, Rosângela Rennó, Miguel Rio Branco e Anna Maria Maiolino. Segundo seus organizadores, o projeto deveria ultrapassar questões específicas dessa fronteira e fazê-lo funcionar como um microcosmo de toda a América. As fronteiras -políticas, econômicas ou culturais- também não poderiam faltar à 1ª edição da bienal do Mercosul, que também se encerra domingo em Porto Alegre. Curada por Frederico Morais, reúne mais de 800 obras de 275 artistas latino-americanos dos seis países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia) e da Venezuela (país homenageado). Segundo Morais, o artista plástico deve trabalhar contra a idéia de globalização. "Eu não aceito essa idéia monotemática da globalização, criada pelo neoliberalismo. A arte está aí para questionar isso. A bienal do Mercosul não é nacionalista ou xenófoba. Não estamos tentando buscar a identidade da arte latino-americana, mas trabalhamos com a idéia de que existe na América Latina uma arte de boa qualidade, que temos uma capacidade de invenção muito grande e que somos originais", disse Texto Anterior: 'Grande Noitada' tenta juntar ópera e chanchada Próximo Texto: InSITE 97 Índice |
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