São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Casa do autor conta sua saga

DO "LIBÉRATION"

Arnaga, a casa que o escritor Edmond Rostand mandou construir em Cambo-les-Bains, no país basco francês, é o exato reflexo de sua obra. Segundo seu amigo Jules Renard, um "magnífico anacronismo". Mistura de hipertrofia e melancolia e verdadeira beleza.
Arquiteturalmente semelhante ao esboço de suas demais peças para teatro: "Cyrano de Bergerac" (1897), "L'Aiglon" (1900) e "Chantecler" (1910).
Jules Renard resumiu o paradoxo: "O artificial lhe basta a tal ponto que ele se apaixona por ele como se fosse a verdade".
Pulmões fracos Edmond Rostand descobre em 1900 a colina cheia de mato de Arnaga. Ele tratava então de uma doença respiratória em Cambo, pequena cidade de cura.
Durante toda sua vida, esse escritor inquieto e depressivo seria doente dos pulmões. Em 1900, "Cyrano de Bergerac" está por trás. "L'Aiglon" pela frente.
Ele manda desmatar a colina e começa a instalar pelo cume os jardins, inspirados nos de Versalhes e nos de Schoenbrun, palácio onde viveu o filho de Napoleão.
A casa é construída entre 1903 e 1906. É uma magnífica tumba de luz. A escada imponente de pedras, as salas com assoalho de carvalho marchetado, como as de um palácio real, lembram que o poeta favorito da atriz Sarah Bernhardt pretendia se fechar em épocas passadas.
Em uma foto, com seus filhos Jean (biólogo) e Maurice (poeta), o pequeno homem careca e bigodudo estufa o peito.
Grandes quadros de família lembram uma linhagem da alta burguesia, mas é um afresco de Latouche, na sala de visitas que revela a nostalgia fabricada.
Pintado a partir de um poema de Victor Hugo (Rostand era tido como seu herdeiro neo-romântico), mostra um pierrô apaixonado, envolto em cor pastel.
Foi no ambiente ao lado que Rostand, ao final da vida, escreveu "Chantecler". Segundo seu filho Jean, ele comprou montes de enciclopédias, conversou com ornitólogos e instalou no jardim um impressionante galinheiro que observava durante horas.
"Chantecler", espetáculo encenado pelo ator Constan Coquelin em 1910, é um meio fracasso.
Rostand morreu em Paris, no dia 2 de dezembro de 1918, vítima da gripe espanhola. Tinha 50 anos e deixou inacabada, em Arnaga, "La Dernière Nuit de Juan" (A Última Noite de Juan).
A casa foi vendida em 1922. Mas vale visitá-la no outono, durante a noite, quando as luzes se alternam. A morte pende então da ponta do nariz de Cyrano de Bergerac.

Tradução Luiz Antonio Del Tedesco.

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