São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Proposta enterraria paz, diz especialista

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Por trás da oferta do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, de devolver de 6% a 8% da Cisjordânia e partir, então, para as negociações de um acordo final com os palestinos, esconde-se a intenção de enterrar de vez o processo de paz.
É o que diz Uzi Benziman, 55, colunista de política do jornal "Haaretz", um dos mais importantes de Israel. Sua afirmação baseia-se em duas linhas de raciocínio.
A primeira, mais óbvia, é que Iasser Arafat, líder da Autoridade Palestina, não aceitaria a devolução de apenas 6% ou 8% da Cisjordânia. "O que ele quer é deixar os palestinos tão furiosos a ponto de abandonar as negociações. Aí, seriam responsabilizados pelo fim do diálogo", diz Benziman.
Além disso, ao decidir pular etapas e partir diretamente para o final das negociações, o primeiro-ministro estaria destruindo a idéia central do processo de paz.
Segundo acordos firmados entre as partes, a retirada do Exército de Israel de parte da Cisjordânia (o percentual exato não foi estipulado) aconteceria em três etapas.
Só depois os dois lados discutiriam questões complicadas como o futuro de Jerusalém -os palestinos querem ter soberania sobre uma parte da cidade-, dos assentamentos judeus na Cisjordânia e a criação de um Estado palestino.
"A idéia central é que os dois lados, palestinos e israelenses, construiriam uma confiança mútua durante um processo relativamente longo", diz Benziman. "À medida que passassem a acreditar uns nos outros, as questões mais explosivas seriam discutidas."
Ao descartar um processo gradativo de retirada dos territórios e sugerir a discussão do acordo final, Netanyahu pretenderia inviabilizar o processo como um todo.
"Ele sabe que não há a menor condição de discutir temas explosivos como o futuro de Jerusalém agora", afirma o colunista. "Um diálogo nesses termos não salvaria a paz, mas a explodiria de vez."
"Na minha opinião, Netanyahu apenas finge querer negociar, mas sabe que todo o processo desabaria diante das dificuldades que surgiriam", conclui Benziman.

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