São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Plínio Marcos revela hipocrisias

NÉLSON DE SÁ

Para quem não suporta o sotaque cubano de Jorge Perugorría ou a beleza excessiva de Vera Fischer em "Navalha na Carne", trata-se de um Plínio Marcos no original: "maldito" e em seu ambiente, o palco.
Este final de semana traz as últimas apresentações da primeira montagem, em muitos anos, de uma peça inédita do dramaturgo. O título é "O Assassinato do Anão do Caralho Grande".
Nestes tempos em que a "maldição" já não amedronta ninguém e vai terminando o tabu em torno de artistas como ele, Plínio Marcos oferece uma linguagem que parece saborear os palavrões e esconde sob ela um carinho imenso por seus personagens, por suas histórias. No caso, ainda maior, pois se trata de um olhar saudoso, ainda que cruel, sobre o velho e decadente circo -em que ele próprio, que foi um palhaço, começou como artista.
É uma comédia para revelar hipocrisias, não para passar juízo. Um circo de ciganos chega a uma pequena cidade do interior do Brasil, talvez a imagem de uma das muitas em que ele se apresentou, e enfrenta a reação de prefeito, delegado, das mulheres. Mas não é, também o circo, nenhum guardião de correção.
Desse confronto, recomposto com uma encenação exuberante -ainda que mambembe, ou a combinação de ambas- de Marco Antonio Rodrigues, não restam vencedores. O circo segue em seu caminho para a dissolução, a cidade se fecha em si mesma. Só o anão, anunciam os jornais, é que se dá bem. Entra para a indústria pornográfica. E ainda querem que Plínio Marcos é obsceno. Como Nelson Rodrigues, ele é um moralista.

***O ASSASSINATO DO ANÃO DO CARALHO GRANDE - Texto: Plínio Marcos. Direção: Marco Antonio Rodrigues. Com: Renata Zanetta, Dagoberto Feliz e Nani de Oliveira. Teatro Fernando Azevedo (pça. da República, 53, região central, tel. 255-7586). 503 lugares. Qui. a sáb.: 21h. Dom.: 20h. Últimas apresentações. Ingr: R$ 10.

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