São Paulo, sábado, 29 de novembro de 1997
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Ex-PM é condenado a 441 anos no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-PM Arlindo Maginário Filho, 37, segundo réu julgado pela chacina de Vigário Geral, foi condenado ontem, por um júri popular, a 441 anos e quatro meses de prisão. A chacina aconteceu em agosto de 93.
Um grupo de encapuzados entrou na favela de Vigário Geral e matou 21 moradores.
Depois de 25 horas de julgamento, o juiz José Geraldo Antônio leu a sentença às 2h15. Maginário foi condenado, por 5 votos a 2, por 20 homicídios duplamente qualificados -pelo motivo torpe (vingança) e pela impossibilidade de defesa das vítimas- e mais quatro tentativas de homicídio.
Foi absolvido, por 4 a 3, pela morte da 21ª vítima, cuja autoria é assumida por outro réu.
O advogado de Maginário, Maurício Neville, recorreu da sentença, alegando que o júri se contradisse e que a condenação foi contra a prova dos autos. Maginário alegou inocência.
Novo julgamento
Ele recebeu pena de 19 anos e seis meses por cada homicídio, mais as penas pelas tentativas de homicídio. Por nenhum crime recebeu pena superior a 20 anos, o que lhe tirou o direito automático a novo júri. Havia três conjuntos de provas contra o réu: 1) o depoimento do informante da polícia Ivan Custódio, que indicou os nomes dos policiais participantes da chacina; 2) as investigações conduzidas pelo coronel da PM Walmir Brum; 3) fitas com conversas entre réus já presos, gravadas por um grupo de acusados.
O álibi de Maginário também era considerado frágil. Ele afirmava que estava em casa com a família, mas a defesa não levou sua mulher para o plenário.
A favor do réu havia o fato de que os sobreviventes da chacina não o reconheceram. Como os matadores estavam encapuzados, o Ministério Público não podia indicar a participação de cada um.
Os promotores afirmaram que Maginário integrou o grupo de extermínio e participou das mortes. Foram exibidas fotos dos corpos das vítimas e reportagens sobre a chacina.
Chacina de família
Os debates entre o Ministério Público e a defesa duraram quase cinco horas. O advogado Maurício Neville argumentou que a condenação a uma pena alta seria uma condenação à morte. "Vocês farão a chacina de outra família", disse Neville aos jurados.
Por um momento, houve a expectativa de que ele afirmasse que Maginário fora à favela, mas não matara ninguém.
Com essa tática, Neville absolveu dois réus confessos na chacina da Candelária.
Na réplica, decisiva para o resultado, o promotor Júlio César Lima dos Santos lembrou "a covardia do capuz" e detalhou como os encapuzados mataram sete pessoas no bar, oito pessoas na mesma casa e as demais nas ruas.

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