São Paulo, sábado, 29 de novembro de 1997
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Corpos são trocados dentro de hospital

RENATO KRAUSZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os corpos de duas mulheres foram trocados anteontem no hospital Municipal Jardim Sarah, no Rio Pequeno (zona sudoeste de São Paulo), vinculado ao PAS (Plano de Atendimento à Saúde).
O impasse só foi totalmente resolvido mais de 12 horas depois. As duas famílias passaram a noite toda tentando sanar o problema.
Foram trocados os corpos de Angelina Silva, que tinha 89 anos e era branca, e Odomira da Silva, que tinha 58 e era negra.
Angelina estava internada no hospital havia 20 dias, vítima de derrame, e morreu às 15h45 de anteontem. A causa registrada no atestado de óbito do hospital foi parada cardíaca.
Odomira foi levada para o hospital pela família às 9h45 de anteontem, mas já chegou morta. Como não tinha atestado de óbito, seu corpo deveria ser levado para o SVO (Serviço de Verificação de Óbito), para fazer autópsia.
Às 18h30, o carro do IML (Instituto Médico Legal) chegou ao hospital, mas levou Angelina. A responsabilidade do engano está sendo apurada (leia abaixo).
A neta de Angelina, a pedagoga Rita de Cássia Silva Godeghesi, 40, afirma que chegou ao hospital por volta das 18h para retirar o corpo de sua avó e esperou até as 23h para ser informada sobre o ocorrido.
"Fui desrespeitada e maltratada pelos funcionários. Só me informaram da troca depois que eu chamei a polícia", disse.
Enquanto isso, no SVO, o corpo de Angelina passava por autópsia sem necessidade, pois já tinha atestado de óbito.
"Fizeram a autópsia, sem autorização da família, numa mulher branca de 89 anos, sendo que na ficha estava escrito que a mulher era negra, de 58", afirmou Rita.
A sobrinha de Odomira, Juliana Alves Pessoa, 28, aguardava no SVO a autópsia que deveria estar sendo feita na tia.
Quando os funcionários do SVO ficaram sabendo do engano, por volta de meia-noite, Juliana voltou ao hospital para buscar o corpo de Odomira, que ainda estava lá.
Por volta das 6h de ontem, Rita chegou ao SVO e teve de enfrentar outro problema. Um funcionário se recusou a liberar o corpo de Angelina sem a apresentação de um Boletim de Ocorrência.
"Eu não precisava do BO, pois já tinha o atestado de óbito", disse a pedagoga. O corpo só foi liberado às 8h20, com a intervenção do diretor do SVO, Carlos Augusto Pasqualucci.
O corpo de Odomira, por sua vez, chegou ao SVO às 5h de ontem e foi liberado ao meio-dia, após a autópsia. Odomira foi enterrada ontem no cemitério São Luís e Angelina, no cemitério do Araçá.
Rita de Cássia afirmou que pretende processar o hospital e o SVO por danos morais.

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