São Paulo, sábado, 29 de novembro de 1997
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Brasília descobre "O Cineasta da Selva"

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A vida e a obra de Silvino Santos, um pioneiro do cinema brasileiro, sobretudo da documentação da floresta amazônica, são o tema de "O Cineasta da Selva", de Aurélio Michilles, que será exibido hoje no Festival de Cinema de Brasília.
O filme mistura imagens captadas pelo próprio Silvino Santos, depoimentos sobre sua trajetória e uma reconstituição ficcional de momentos da sua vida, com José de Abreu no papel do cineasta.
O documentário mais famoso de Santos é o silencioso "No País das Amazonas", de 1922. Nesse e em outros trabalhos, o cineasta desbravou trechos inóspitos da selva.
"A câmera de repente embaçava por causa da umidade, parava tudo. Numa ocasião o set foi invadido por um exército de formigas."
O amazonense Michilles, que estréia no cinema, é um tarimbado realizador de documentários para a TV, entre eles "Que Viva Glauber" e "Davi contra Golias" (sobre o massacre dos ianomâmi).
Segundo Michilles, a idéia de incorporar ao documentário a reconstituição encenada de momentos da vida de Silvino obedeceu a dois objetivos. "Primeiro, fazer conceitualmente uma homenagem a ele, pois o documentarista, desde a escolha do enquadramento, sempre intervém na realidade."
Além disso, o diretor, durante a pesquisa, encontrou um livro inédito de memórias de Silvino Santos e quis incorporá-las ao filme. "Eram histórias maravilhosas, sobre suas aventuras na selva. O jeito que encontrei de integrar isso à narrativa foi recorrer à ficção."
O filme de Aurélio Michilles dá especial atenção à inventividade de Silvino Santos e seu poder de improvisação para filmar nas condições adversas da selva.
Como o material filmado por Silvino Santos estava nos mais variados suportes, Aurélio Michilles optou por telecinar tudo e depois reverter à película de 35 mm por meio da kinoscopia (grosso modo, a fotografia quadro a quadro da imagem eletrônica).
As partes filmadas pelo próprio Michilles foram rodadas em super-16 mm, telecinadas e kinoscopadas para 35 mm. "Gosto de pensar no meu filme como um diálogo entre cinema e vídeo, assim como entre documentário e ficção, cinema sonoro e mudo, preto-e-branco e cores, mito e realidade."
"O Cineasta da Selva" custou R$ 700 mil. Ganhou R$ 100 mil da emissora de TV a cabo HBO (que vai exibi-lo dia 1º de dezembro) e R$ 190 mil da TV Cultura. O filme estréia em São Paulo no dia 5.
Bressane
Julio Bressane é um dos poucos cineastas brasileiros cujos filmes provocam discussão na platéia.
Seu belo e desconcertante "Miramar", exibido anteontem, suscitou um bate-boca coletivo que culminou com um espectador gritando para outro: "Vai ver 'Você Decide"'. Algumas dezenas de pessoas abandonaram a sessão, mas a grande maioria ficou e aplaudiu.

O jornalista José Geraldo Couto viaja a convite da organização do festival.

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