São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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"O presidente perdeu"

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), disse ontem em Salvador (BA) que o presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu politicamente com as mudanças anunciadas no pacote econômico.
"O presidente perdeu e este desgaste poderia ter sido evitado, mas ele (FHC) vai se recuperar rapidamente porque ninguém da oposição soube capitalizar politicamente o fato."
Segundo ACM, os ministros da área econômica (Pedro Malan, Fazenda, e Antonio Kandir, Planejamento) aprenderam "uma lição" com as mudanças anunciadas anteontem à tarde no pacote econômico.
ACM citou uma frase do papa João 23 para justificar sua opinião. "Ninguém pode tudo." Segundo ACM, eles (os ministros da área econômica) "acham que podem tudo."
Apesar das mudanças efetuadas no pacote fiscal, o senador ACM considera que os reflexos ainda são negativos perante à população.
"Mas, se o governo explicar melhor, certamente o povo vai entender que as mudanças são necessárias para evitar uma nova crise no país."
O presidente do Senado disse que as mudanças do pacote deveriam já estar entre as 51 medidas que foram anunciadas há quase três semanas. "Com isso, o governo não iria ferir as classe média, artística e o conjunto da população."
ACM afirmou que não se considera vencedor dessa batalha política porque o governo atendeu em parte sua principal reivindicação -limitou o aumento do Imposto de Renda (IR) a quem ganha acima de R$ 1.800 por mês.
"Eu defendia e continuo defendendo que não haja nenhuma mudança na alíquota do IR para as pessoas físicas."
Para o senador baiano, existem outros mecanismos para o governo aumentar a arrecadação sem mexer nas alíquotas do IR. "Basta taxar os ganhos de capital e fazer uma arrecadação mais eficiente."
ACM disse ainda que o governo errou ao anunciar demissões de 33 mil funcionários públicos. "Essa não é uma medida positiva, até porque o governo sabe que não vai demitir ninguém. E, se é para demitir, para que anunciar?"
Segundo ele, ao anunciar a demissão de 33 mil funcionários, o governo colocou em pânico outros 200 mil. "O que o governo fez foi aumentar o número de inimigos."
ACM disse também que faltou um articulador político na elaboração do pacote fiscal. "Não é possível que entre as cabeças políticas do país nenhuma mereça a confiança do governo. Ninguém sabia do pacote. Se eles não confiam em mim, têm de confiar em alguém." Para ele, perante à população, o PFL capitalizou os benefícios políticos para forçar as mudanças no pacote fiscal.
"Perante os escalões do governo não sei se o PFL saiu fortalecido. Todas as vezes que se muda as decisões de um tecnocrata sempre fica uma mágoa."
Ele acrescentou que, após as mudanças realizadas, o pacote vai ser aprovado.

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