São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Uruguai vira atravessador de jogadores

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

O papel aceita tudo, e a Fifa, entidade que rege o futebol no mundo, quase tudo.
Até transformar Central Español, Fenix, Wanderers e Defensor -times modestos do falido Campeonato Uruguaio- nos maiores celeiros de craques americanos com destino à Europa.
Uma olhada na lista de passes internacionais da AUF (Associação Uruguaia de Futebol), a qual a Folha teve acesso, é suficiente para indicar como os empresários de futebol usam os pequenos times como fachada de suas transações.
"Esse tipo de negócio está sendo a solução para as contas dos pequenos times no Uruguai", afirma Enrique Balderich, ex-presidente do Central Español, time que contratou da Lusa o lateral-esquerdo Zé Roberto e o revendeu, no mesmo dia, ao Real Madrid (Espanha).
Amizade
O Central Español, cujos dirigentes são unidos por uma "amizade muito grande" com o empresário Juan Figer e com clubes da Espanha, já foi dono dos passes dos brasileiros Silas, Nilson, Axel, Ricardo Rocha e Zé Roberto.
Deles, só Silas vestiu a camisa azul, vermelha e branca do time e entrou no vestiário do estádio Parque Palermo (centro de Montevidéu, a capital uruguaia).
Jogou cinco partidas e marcou quatro gols antes de ir por empréstimo para o San Lorenzo, da Argentina.
A maioria, porém, só fez escala no Uruguai. Nem sequer jogou.
Como mostrou os documentos publicados pela Folha nesta semana, o lateral-esquerdo Zé Roberto passou da Lusa para o Real Madrid em uma triangulação feita em um dia com o Central Español.
Influência
O caso do Central Español é claro: Juan Figer, que anuncia em uma página pessoal da Internet 21 jogadores à venda, é sócio honorário do clube.
Seu sobrinho Ernesto Liurner, que o representa no Uruguai, é assessor do presidente do clube, Hugo Jaurena, que prefere não acentuar muito esse vínculo.
"Fazemos negócios com muitos empresários, uns dez, aproximadamente, não só com Figer", disse.
Para ele, transações como a transferência de Zé Roberto são perfeitamente normais -a Lusa afirma ter vendido o jogador por US$ 4,6 milhões, e o Real Madrid declara ter pago US$ 9,98 milhões, com US$ 5,38 milhões sumindo no caminho entre os dois clubes.
Em troca de dinheiro ou empréstimo de algum jogador pouco badalado, clubes como o Central Español, Fenix ou Wanderers assumem oficialmente serem os donos dos passes de jogadores que, na realidade, são de empresários.
Dessa forma, os empresários estão resguardados caso o negócio com os clubes tenha algum problema. Por exemplo, se o time europeu atrasar o pagamento do passe, o empresário não pode reclamar à Fifa uma punição, porque a entidade não o reconhece como proprietário do passe do jogador.

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