São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997 |
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Sendero Luminoso ressurge na selva Repórter visita área de ação da guerrilha NICOLE BONNET
Um de seus mais recentes ataques obrigou a Companhia Geral de Geofísica (CGG) a abandonar o trabalho de pesquisa que vinha fazendo havia um ano para a companhia petrolífera Elf Aquitaine. Hoje o acampamento da CGG, próximo ao rio Satipo, está praticamente abandonado. Seus 850 empregados foram despedidos. Restaram apenas um guarda e alguns homens que podam as roseiras do jardim e mantêm a grama cortada. Felix, o guia que leva os raros visitantes ao local, diz que "a partida da empresa foi um desastre para os habitantes de Satipo. Foi o sinal de que o terrorismo do Sendero recomeçou a dar as ordens por aqui". Em agosto, guerrilheiros senderistas sequestraram 30 funcionários da CGG em San Martín de Pangoa. Ameaçando matar os reféns, os senderistas exigiram alimentos, roupas, sapatos, remédios e pilhas. Os reféns foram libertados dois dias mais tarde, sãos e salvos. "O desenlace foi feliz graças à intervenção direta do general Huertas, comandante da região, nas negociações", reconheceu o representante da CGG, Bernard Sore. A decisão tomada pela empresa de abandonar seu acampamento não teria sido precipitada, como dão a entender certas autoridades locais? "Não queríamos colocar nossos funcionários em perigo", responde Bernard Sore. "Vamos retomar nossas atividades no ano que vem, se for garantida a pacificação real da região." A CGG não é a primeira empresa a abandonar a região. Apesar disso, o distrito de San Martín de Pangoa, o maior da província de Satipo, não está todo sob controle do Sendero Luminoso. Com a exceção da parte norte, em torno da capital do distrito, a floresta é praticamente virgem. O Sendero Luminoso estabeleceu sua base perto do rio Anapati, a partir de onde lança seus ataques em direção aos rios Lantaro, no sul, e Ene, no leste. "Esse mato é um esconderijo inexpugnável", explica o prefeito, Raul Quispe. Pepe Campos, dirigente de uma organização indígena da região, confirma: "O Sendero se instalou na região em 1987. Os velhos, as mulheres e as crianças plantam mandioca, banana e abóbora. Os homens formam uma base de apoio itinerante para Feliciano". Feliciano, cujo nome verdadeiro é Oscar Ramirez Duran, é o chefe senderista que se opõe ao acordo de paz assinado na prisão por Guzmán. O acampamento dos irredutíveis domina os vales. Armadilhas e túneis permitem aos senderistas se proteger e atravessar as colinas sem serem vistos. Eles mudaram de estratégia e agora proclamam "mea culpa". "Nossa guerra popular cometeu erros, atos de violência inúteis. Foi errado", dizem agora os guerrilheiros aos camponeses que plantam café nos vales. "O inimigo principal é o Estado. Colaborem conosco, na surdina, e tudo vai sair bem." O Sendero Luminoso tem amigos na região: os traficantes de drogas. A coca é pouco cultivada no distrito, exceto no sul, perto do rio Mantaro e do vale do rio Apurimac. Mas não faltam poços de maceração, onde as folhas de coca são transformadas em sulfato de cocaína e em cloridrato, para depois serem exportadas para o Brasil ou Colômbia por traficantes que seguem a via fluvial dos rios Ene, Tambo, Ucayali e Amazonas, ou utilizam as diversas pistas de pouso clandestinas escondidas na selva. Em Cutivireni, onde vive uma comunidade de ashaninkas, os índios recentemente capturaram alguns "narcos", que levaram até a base militar de Morales, na outra margem do Ene. Estranhamente, os traficantes foram soltos, mas a polícia está acusando o prefeito de Cutivireni, Jaime Velasquez, de envolvimento com o tráfico. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Sultão de Brunei esbanja fortuna Próximo Texto: Exército fala em 'sonâmbulo e esfomeados' Índice |
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