São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Esperteza, dez; geografia, zero

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

"O presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou sua visita à França dizendo-se encantado com a sua capital, Hamburgo. De lá seguiu para os Estados Unidos, onde pretende conhecer a sua nova capital, Atlanta."
Você já imaginou o que teria acontecido se o nosso presidente tivesse cometido tamanhas gafes?
Pobre do Brasil! A imprensa internacional colocaria em campo as poderosas armas de sua truculenta artilharia. A CNN repetiria os erros de hora em hora, em inglês, espanhol, francês, alemão, japonês e iídiche. E os editoriais do "Le Figaro" e do "New York Times" arrasariam com os nossos professores de geografia.
É bom nem pensar nisso. Para nós, brasileiros, um erro dessa magnitude seria mais devastador do que o estouro da Bolsa de Hong Kong.
Pois bem. Como todos lembram, em 1983 o presidente Ronald Reagan confundiu o Brasil com a Bolívia. E na última terça-feira o presidente Jacques Chirac confundiu o Brasil com o México.
É claro que a diplomacia dos dois países atribuiu isso ao cansaço. Desculpa que jamais seria aceita se o presidente do Brasil tivesse cometido os mesmos erros depois de viajar a noite inteira de Boeing 707, o heróico "sucatão".
Se Reagan e Chirac consideram o Brasil como Bolívia e México, o que dirá a média dos americanos e dos franceses? Levantei essa questão para o meu amigo Matias, agricultor irrequieto do interior de São Paulo. Mordaz como sempre, ele foi logo dizendo que o resultado poderia ser melhor, pois, afinal, os americanos e os franceses têm, em média, 12 anos de escola. Pura maldade do Matias... Não liguem para isso.
Para quem é a oitava economia do mundo, ser tachado de subdesenvolvido já é fardo pesado de carregar. Mas ser confundido com povos ainda menos desenvolvidos é referência devastadora para a auto-estima de qualquer nação.
No fundo, essa confusão traduz a infinita leveza do nosso peso específico na cabeça daqueles mandatários. Sim, porque nunca aconteceu de um presidente dos Estados Unidos confundir a França com a Alemanha. E nem tampouco um presidente da França confundir os Estados Unidos com o Japão.
Com o Brasil aconteceu. E por duas vezes. Sem contar, é claro, os que trocam Brasília por Buenos Aires. Por mais que se justifique a exaustão dos governantes, isso dói.
Você, leitor, teria coragem de saber o resultado de um teste que foi aplicado nos altos dirigentes do Primeiro Mundo no qual se perguntou o nome das capitais das oito maiores economias do planeta?
Dizem que a maioria acertou com facilidade os nomes de Washington, Tóquio, Berlim, Paris, Londres, Roma e Pequim. Mas, depois disso, houve casos de coma profundo para os que puxaram demais pela memória na tentativa fracassada de recordar da capital do Brasil. Está confirmado: esperteza, dez; geografia, zero...

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