São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Os EUA e a política de combate às drogas

THOMAS MCLARTY

Nos últimos anos, sob quase todos os aspectos, nossos vizinhos das Américas experimentaram uma verdadeira história de sucesso. Todas as nações em nosso hemisfério são democráticas, com exceção de uma. Os líderes têm visão global e são otimistas. As economias estão crescendo e a vida das pessoas, em geral, está melhorando.
Nada, porém, inverterá essa tendência mais rapidamente do que o esgarçamento do tecido que liga as sociedades. E nada é mais forte nesse sentido do que a ameaça das drogas ilegais.
Nas Américas, o tráfico de drogas não tem fronteiras. É um problema que não discrimina suas vítimas, corrompendo e destruindo o tecido da sociedade que todas as democracias saudáveis precisam ter para sobreviver.
E, na medida em que as nações ao sul dos Estados Unidos se tornem mais ricas e os cartéis de drogas se interiorizem em busca de novos mercados, o consumo -e não somente a produção- se tornará também uma crescente ameaça às democracias frágeis.
Com só 4% da população do mundo, os EUA consomem uma quantidade desproporcional de drogas ilegais. Mas há sinais encorajadores. O número de norte-americanos que usam drogas baixou em 50% desde 1979 -de 25 milhões para 13 milhões. O número de usuários de cocaína recuou de 6 milhões para 1,7 milhão na última década.
Podemos e devemos fazer melhor. É por isso que a Estratégia Nacional de Controle de Drogas do presidente Bill Clinton desenvolveu um plano abrangente, equilibrado e integrado para tratar esse desafio em todos os aspectos.
A estratégia reconhece que nossos esforços internos devem ser fortemente apoiados por medidas contínuas para atacar o que é fundamentalmente um problema global, alimentado pelos cada vez mais poderosos cartéis criminosos internacionais.
Para combater o comércio de drogas com sucesso, devemos atingir tanto as pessoas envolvidas quanto seus lucros. Não podemos mais, como hemisfério, permitir que qualquer nação se torne um refúgio seguro para os criminosos ou seus ganhos ilícitos.
Essa é a razão pela qual estamos tão empenhados em estabelecer um front comum para assegurar que os criminosos enfrentem a Justiça, onde quer que tenham cometido seus crimes, por meio de extradição que resulte em tempo suficiente na prisão e da apreensão de seus bens. Aumentamos a capacidade de execução da lei na região, fornecendo treinamento extensivo e assistência técnica aos seus agentes.
Muita coisa mudou no hemisfério nos últimos dez anos. Líderes democratas assumiram o poder e desejam trabalhar juntos para enfrentar o inimigo comum do comércio ilegal de drogas. O hemisfério mostra cada vez mais uma nova face -de responsabilidade, compromisso, confiança. Devemos, em contrapartida, começar a mostrar à região nossa nova face, baseada em cooperação e respeito mútuos.
Precisamos ir além das acusações e recriminações: devemos fazer um trabalho cooperativo. Trabalhando juntos e compartilhando informações, podemos reduzir com sucesso a demanda e erradicar as plantações. Ao mesmo tempo, podemos oferecer alternativas de desenvolvimento, acabar com a lavagem de dinheiro, perseguir e processar os traficantes de drogas e confiscar suas fortunas ilegais. Para os criminosos, não deve existir nenhum lugar onde possam ficar fora do alcance da lei.
Essa é a mensagem que Clinton levou consigo à primeira Cúpula das Américas (Miami, 1994), depois ao México, à América Central e ao Caribe, e à América do Sul -Venezuela, Brasil e Argentina-, em outubro. E é precisamente essa a razão pela qual iniciamos discussões sérias com outros países para estabelecer uma aliança regional contra as drogas ilegais, proposta pelo governo em seu relatório de setembro, endereçado ao Congresso.
Nosso plano é desenvolver um sistema hemisférico de avaliação e monitoramento, baseado em medidas de desempenho e critérios imparciais, técnicos e internacionalmente aceitos.
Essa proposta foi extensivamente discutida em novembro, durante uma conferência de dois dias em Washington, patrocinada pelo Escritório Nacional de Política de Controle de Drogas e pelo Departamento de Estado. Estamos empenhados em incluí-la na agenda de todos os líderes do hemisfério quando eles se encontrarem em abril próximo, em Santiago, na Cúpula das Américas.
É um desvio de nossa abordagem atual? Certamente sim, e muitas questões deverão ser respondidas antes de instituirmos esse plano. Mas, desde o final da Guerra Fria, nosso hemisfério mudou tão radicalmente quanto a Europa com a queda do Muro de Berlim. Agora, temos parceiros capazes, corajosos e comprometidos com a luta contra as drogas.
Nossa política também deve evoluir. Creio que o hemisfério está pronto para considerar uma nova abordagem para o século que se avizinha.

Thomas F. McLarty 3º, 51, é conselheiro sênior e enviado especial para as Américas da Presidência dos Estados Unidos. Foi chefe de gabinete da Casa Branca.

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