São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Presidente elogia Thatcher em edição nacional de livro de Blair

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O que o presidente Fernando Henrique Cardoso e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, têm em comum? Um passado a serviço de idéias de esquerda ou uma nova paixão pelas idéias neoliberais de Margaret Thatcher (premiê conservadora britânica de 1979 a 1990)?
As duas respostas estão certas. Em prefácio para a versão em português do livro de Tony Blair, intitulado "Minha visão da Inglaterra", FHC afirma que é necessário ter a mesma coragem de Tony Blair e do novo trabalhismo britânico para dizer que Margaret Thatcher, a política que colocou a palavra privatização no dicionário inglês, tinha alguma razão.
O presidente Fernando Henrique Cardoso entregará a Tony Blair uma cópia do prefácio, em inglês, na reunião que terá com o premiê britânico, prevista para quinta-feira, às 13h, no famoso prédio número 10 da Downing Street, a casa do premiê e sede do governo britânico, no centro de Londres.
Novo trabalhismo
A versão em português do livro de Tony Blair, que explica o "novo trabalhismo" -doutrina de centro-esquerda que levou o partido ao poder neste ano depois de 18 anos na oposição-, será lançada no Brasil pelo Instituto Teotonio Vilela, do PSDB, dentro de dez dias.
Em seu texto, depois de afirmar que nem a velha esquerda nem a nova direita conservadora resolvem os desafios centrais da nova sociedade, Fernando Henrique Cardoso concorda com a avaliação de Tony Blair segundo a qual Margaret Thatcher foi "uma radical".
Em seu livro, o primeiro-ministro Tony Blair destaca, textualmente, que "uma grande ênfase nas empresas; recompensa ao êxito, e não sua penalização; a quebra de alguns interesses conspícuos da burocracia estatal. Nesse sentido a senhora Thatcher foi uma radical, não uma conservadora".
Segundo FHC, por radical, Tony Blair quer dizer "coisa muito diferente" dos "radicais" brasileiros. "Quer dizer ter a coragem de assumir as mudanças ocorridas na economia, na política e na vida e defender a nova política sem meias-palavras."
Polêmica divisionista
O presidente elogia as reformas de Tony Blair e destaca o "redescobrimento do mercado" pelos socialistas britânicos, não como um "valor", mas como uma condição para a realização de valores (mais oportunidades, mais igualdade e bem-estar).
Afirmando que o desafio do PSDB e da política brasileira não será muito diferente do desafio enfrentado por Tony Blair, FHC ataca a esquerda brasileira.
O presidente afirma que, se não buscar o "centro radical" defendido por Blair, a política brasileira vai se enfraquecer com a "polêmica divisionista" proposta pela "velha esquerda", que, diz FHC, lançando farpas para o PT, "impregnou alguns partidos tão jovens...", entre "neoliberalismo" e "não sei o quê".

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