São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Apartamentos da CDHU são mais caros

EMANUEL NERI

EMANUEL NERI; FABRIZIO RIGOUT
DA REPORTAGEM LOCAL

Custo do metro quadrado de imóveis do Chamamento Empresarial supera o de outros projetos

Apartamentos construídos pelo Chamamento Empresarial, do governo paulista, são os mais caros na modalidade de habitação popular já feitos em São Paulo. A Folha revelou suspeita de superfaturamentos de até 1.955% em terrenos comprados pelo governo estadual.
Construídos pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), esses apartamentos, de 45,46m², custam ao Estado R$ 24,7 mil (em média, na capital) e R$ 19 mil (interior). No caso das casas, de 39,57 m², construídas apenas no interior, seu custo médio cai para R$ 11,8 mil.
O custo do metro quadrado desses apartamentos é de R$ 418,38 no interior e de R$ 544,74 na capital. São mais caros do que o Projeto Cingapura, de Paulo Maluf, cujos imóveis custam R$ 369,07 o metro quadrado. Comparados ao Projeto Mutirão, da ex-prefeita Luiza Erundina, a diferença é maior.
O custo do metro quadrado do Mutirão de Erundina era de R$ 203,00. Os próprios imóveis feitos pelo sistema Mutirão no governo Mário Covas, construídos pela CDHU, ficam muito mais em conta -R$ 233,44 o metro quadrado.
Diferenças
É claro que há diferenças entre cada uma dessas modalidades. No Chamamento Empresarial, o custo do apartamento inclui o terreno, o que não ocorre com o Cingapura e os Mutirões. No caso dos Mutirões, a CDHU dá dinheiro para comprar material, assessoria e mão-de-obra especializada.
Em comparação ao Cingapura, mesmo incluindo os terrenos, esses imóveis continuariam com custo inferior. A Prefeitura de São Paulo diz que um apartamento do Cingapura de 45m2 tem custo médio próximo a R$ 17 mil. Se o terreno fosse incluído no custo, passaria a custar no máximo R$ 21 mil.
Esse valor é pelo menos R$ 5,5 mil mais baixo do que o mutuário da CDHU vai pagar por um apartamento de tamanho semelhante -45,46m2 - no bairro de Perus, na extrema periferia noroeste de São Paulo. O custo de cada um desses imóveis é R$ 27,5 mil.
São igualmente elevados os custos de apartamentos do mesmo tamanho que a CDHU constrói para pessoas pobres na periferia de Santo Amaro (R$ 25,9 mil) e em Guaianazes (R$ 22,4 mil), zonas sudeste e leste de São Paulo.
Alvo de inquéritos do Ministério Público, por causa do suposto superfaturamento de seus terrenos, imóveis do Chamamento Empresarial também ganham com folga no item custo quando comparados a outro projeto da própria CDHU, o Empreendimento Global.
Em dezembro do ano passado, a CDHU fez apartamentos por esse sistema que custaram R$ 12,6 mil -pouco mais da metade dos R$ 24,7 mil do preço médio de apartamentos construídos na capital pelo Chamamento Empresarial.
No Empreendimento Global, as prefeituras de cidades em que os imóveis são construídos doam os terrenos para a CDHU. Mas isso não ocorre em construções da região metropolitana, onde a CDHU entra com os terrenos e com a infra-estrutura de cada obra.
Embora se trate de habitações populares, o custo dos apartamentos do Chamamento Empresarial na capital não fica muito distante do preço do metro quadrado de imóveis semelhantes em bairros de classe média de São Paulo, como Sumaré e Pompéia, zona noroeste.
Segundo corretor da J. Almeida Imóveis, que atua nesses bairros, o preço do metro quadrado de apartamentos de um ou dois quartos em alguns pontos dessa região é de R$ 700 -o preço do metro quadrado do apartamento da CDHU em Perus custa R$ 606.
Alta inadimplência
A elevada inadimplência verificada atualmente entre os mutuários da CDHU pode ser resultado dos elevados preços dos imóveis. Em 94, no final do governo Fleury, a inadimplência dos mutuários era de 11,87%. Em 97, pelo menos 35% dos mutuários da CDHU estão com suas prestações atrasadas.
O custo do Chamamento Empresarial inclui apenas o valor do imóvel pronto. Sobre esses valores são acrescidos os custos operacionais e de comercialização, além de juros. O governo aplica ainda subsídios para que os imóveis se tornem acessíveis à população pobre.

Colaborou Fabrizio Rigout, da Redação

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