São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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'Morte' que muda campeões

ROGÉRIO SIMÕES

Final da Copa de 70: Brasil x Alemanha Ocidental. Final da Copa de 82: Itália x França.
Esses seriam os cenários de dois dos mais emocionantes Mundiais da história caso eles já contassem com a grande novidade da Copa de 98: a "morte súbita".
A estréia da nova regra em Copas do Mundo foi no último dia 16, no jogo em que o Japão conseguiu sua classificação contra o Irã.
Mas o Brasil a conhece bem desde o ano passado, quando perdeu para os nigerianos o direito de disputar o ouro olímpico em Atlanta.
Polêmica, a "morte súbita" faz a alegria dos vencedores e leva os derrotados ao desespero nos poucos segundos de uma única jogada.
Foi o que aconteceu no dia 31 de julho do ano passado. Kanu, da Nigéria, aos 3min15 da prorrogação, decretou o fracasso da seleção de Zagallo na Olimpíada de Atlanta, no seu primeiro e único encontro com a "morte súbita".
O treinador brasileiro já criticou o mecanismo, dizendo que ele é injusto por não permitir a reação do adversário que tomou um gol.
O fato é que, para técnicos e jogadores, continuará o dilema: será melhor reforçar a defesa para não tomar o gol decisivo ou atacar para definir logo a partida?
Nas Copas anteriores, não era assim. Cada prorrogação era garantia de, no mínimo, 30 minutos de tensão que poderiam ainda levar a uma disputa por pênaltis. Caso o primeiro gol decidisse o resultado, muita coisa teria sido diferente.
Em 70, na semifinal contra a Itália, quando a Alemanha Ocidental empatou em 1 a 1 no final do jogo, poucos poderiam imaginar o que viria na prorrogação: cinco gols, e o primeiro time a marcar seria justamente a Alemanha, com Muller.
Caso houvesse a "morte súbita", ninguém teria visto os outros quatro gols, que deram a vitória aos italianos, por 4 a 3. E os alemães já teriam garantido seu passaporte para enfrentar o Brasil.
Em 82, com a nova regra, a França de Michel Platini teria chegado à sua primeira final de Copa.
Depois de um tenso 1 a 1 no tempo regulamentar da semifinal contra a Alemanha Ocidental, Tresor e Giresse deixaram o time francês na frente por mais de dez minutos.
Com a "morte súbita", o primeiro gol já teria sido suficiente para levar a França à final. Também ninguém teria conhecido os últimos três gols da prorrogação nem a nervosa disputa de pênaltis que classificou os alemães.
E a Itália de Paolo Rossi poderia não ter se dado tão bem no jogo decisivo. Estaria escrita uma outra história das Copas do Mundo.
(RS)

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