São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Coquetel 'suaviza' falta de verba para Aids

LUCIA MARTINS

LUCIA MARTINS; WILSON TOSTA
DA REPORTAGEM LOCAL E

No dia de luta anti-HIV, ministério estima que uso de drogas pode atenuar escassez do orçamento previsto para 98

WILSON TOSTA
O uso do coquetel anti-Aids está economizando dinheiro do Ministério da Saúde e pode representar uma redução nos gastos com tratamentos para os doentes.
A análise foi feita ontem pela Coordenação Nacional de Aids. Essa redução é fruto da diminuição do número de internações, atendimentos em ambulatórios e gastos com medicamentos para combater as doenças oportunistas.
Até agora estão garantidos, no Orçamento da União para 98, R$ 228 milhões para o tratamento dos cerca de 40 mil doentes. A coordenação fazia uma previsão de que seriam necessários mais R$ 500 milhões para pagar as drogas.
Ontem, o coordenador de Aids, Pedro Chequer, fez uma nova estimativa. Afirmou que os R$ 500 milhões podem não ser totalmente necessários. "O uso do coquetel reduziu os gastos com medicamentos para infecções oportunistas e com internações hospitalares", afirmou Chequer, que participou ontem dos eventos que marcaram o Dia Mundial de Luta contra a Aids.
Dados do ministério mostram que um portador do vírus que toma o coquetel custa cerca de R$ 10 mil por ano, pelo menos 50% menos do que custaria se ficasse doente. Chequer calcula que, em vez dos cerca de R$ 500 milhões que gastou neste ano para pagar os remédios, o governo teria gasto quase R$ 2 bilhões.
Essa estimativa se baseia na redução do uso da rede de saúde pelos doentes de Aids. No hospital-dia do DST/CRT, de São Paulo, houve uma redução de 40% no número de atendimentos desde o início do uso dos remédios. A redução no Hospital Emílio Ribas foi semelhante: 35%.
Além disso, desde outubro, houve uma redução de 20% no uso do ganciclovir. O remédio combate o citomegalovírus, que causa a infecção oportunista mais comum nos doentes. O custo por paciente é de cerca de R$ 5.000 ao ano.
O coquetel começou a ser distribuído no Brasil no início deste ano e já conseguiu reduzir a taxa de mortalidade cerca de 30% (leia texto nesta página).
Chequer afirmou que o ministro Carlos Albuquerque (Saúde) está fazendo gestões para garantir R$ 500 milhões que faltam.
Para conseguir o resto do dinheiro, Albuquerque planeja remanejar recursos e conseguir a participação de Estados e municípios na distribuição gratuita de medicamentos aos doentes.
Ontem, Chequer participou da inauguração da nova unidade para tratamento da Aids do hospital São Francisco de Assis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A unidade tem 50 leitos para internação de adultos e crianças e outros 22 leitos no hospital-dia.
A diretora do São Francisco, Sônia Carvalhal, disse que, desde 92, funciona no local a Unidade de Testagem Anônima, onde as pessoas podem se submeter sigilosamente aos testes de Aids.
O tratamento de portadores, no entanto, começou em 93, mas foi suspenso pouco depois do início. Em junho de 97, foi retomado o tratamento de doentes assintomáticos. Ontem, após uma reforma de três meses, foram inaugurados quatro andares destinados aos portadores do HIV.

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