São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Galinhas marcam protesto em SP

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinquenta galinhas brancas com fitas vermelhas no pescoço foram soltas ontem no saguão da Secretaria Municipal da Saúde, na avenida Paulista (região central de SP).
O corre-corre das galinhas provocou risos e confusão. Algumas aves se refugiaram no elevador e acabaram se perdendo pelos andares do prédio.
O ato de protesto foi organizado por um grupo de ONGs que trabalha com Aids. Elas criticavam o "descaso" da prefeitura para com os doentes de Aids e a lentidão dos programas de prevenção.
A escolha das galinhas foi uma referência ao "escândalo do frango", no qual a prefeitura foi acusada de comprar aves de uma granja da família do ex-prefeito Paulo Maluf para a merenda escolar. A fita vermelha, amarrada no pescoço das galinhas, é o símbolo da solidariedade.
"A prefeitura nunca comprou um remédio e investe pouco em tratamento e prevenção", disse José Araujo, do Grupo de Incentivo à Vida (GIV). "A cidade com o maior número de pacientes de Aids é a que menos está fazendo." São Paulo tem 30.623 casos de Aids notificados, 26,3% dos 116.389 doentes identificados no país.
Segundo Araujo, os pacientes de Aids que chegam aos hospitais do PAS (Plano de Atedimento à Saúde) são encaminhados aos centros de referência criados pela prefeitura. "Em 12 centros visitados por ONGs, não havia um único raios X funcionando e só um quarto deles tinha infectologista e dermatologista", disse. "Os profissionais são excelentes, mas faltam recursos."
Orlando Magnolli, porta-voz da Secretaria Municipal da Saúde, disse que os centros de referência são hospitais-dia especializados no atendimento a doenças infecto-contagiosas. "Quando há urgência ou necessidade de internação, ninguém deixa de ser atendido pelo PAS", afirmou. Segundo Magnolli, São Paulo é das poucas cidades que vêm mantendo a saúde pública com verbas próprias.
Artur Kalichman, coordenador do programa estadual de Aids, disse que nos últimos quatro meses a rede municipal vem atendendo a um número maior de pacientes. "A implantação do PAS desestruturou os serviços voltados para a Aids. Depois de muitos protestos das ONGs, a prefeitura criou algumas unidades de atendimento. Mas São Paulo ainda não comprou remédios e certamente poderia fazer mais do que está fazendo."
Em outro protesto, na praça da Sé (centro de SP), quinze militantes do Grupo pela Vidda, vestindo máscaras negras, protestaram contra a ameaça de corte nas verbas do ministério. "Fora, ministro; você mata os nossos amigos", dizia uma faixa. "São Paulo deveria seguir o exemplo de cidades como Santos, Niterói e Porto Alegre, bancando parte dos medicamentos", disse Mario Scheffer, do Grupo pela Vidda.
Na Sé, cerca de 400 pessoas protestaram contra o governo.
Às 10h30, um culto ecumênico no Hospital Emílio Ribas terminou com 2.000 balões no céu, simbolizando os 20 mil pacientes de Aids que o instituto já atendeu.
No mesmo horário, no Memorial da América Latina, a Associação Saúde da Família lançou oficialmente a camisinha feminina.

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