São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Crianças com Aids

LUIZ MOTT

Todos os anos, no Dia Mundial de Luta contra a Aids, a Organização Mundial da Saúde oficializa um tema de reflexão com vistas a dirigir a ação dos governos, das ONGs e da população em geral.
Para este 1º de dezembro, o tema escolhido pela OMS foi a infância, sugestão que o nosso Ministério da Saúde traduziu com a mensagem: "Criança vivendo com Aids, o Brasil dá um abraço".
Criança é um grupo que vem sensibilizando a opinião pública -sobretudo quando os "inocentes" são vítimas de Aids, assédio sexual ou exploração no trabalho. Os milhares de criancinhas morrendo diariamente por desnutrição já não causam tanta empatia, mas crianças herdeiras do HIV dos pais conseguem um dia mundial e o comovido abraço do Brasil.
Por trás desse slogan, nossas autoridades sanitárias querem ensinar que o contato físico e social com portadores de HIV não oferecem risco de contaminação. O abraço, simbólico e real, sugere a importância de todos abraçarmos a luta contra a epidemia.
Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 83 e 97, foram identificados no país 2.924 casos de Aids em menores de 13 anos, para mais de 116 mil brasileiros notificados. Crianças de 1 a 12 anos representam 2,5% das notificações.
Devemos nos preocupar não só com as 4.000 crianças já portadoras do HIV, mas com nossos 40 milhões de crianças e adolescentes que, pela desinformação, correm sério risco de vir a ser infectados.
Segundo a mesma fonte governamental, já há 19 casos notificados no Brasil de menores de 13 anos infectados pelo HIV em relações sexuais e pelo uso de drogas injetáveis. Reflita o leitor: quantos milhares de adolescentes já têm o HIV e ainda não fizeram o teste nem manifestaram sintomas?
Devemos transmitir a todas as crianças do Brasil o bê-á-bá de como se prevenir. Ensinar a eles, logo que comecem a andar, que, se encontrarem na rua uma camisinha usada, não devem pegar e muito menos colocar na boca, comportamento frequentemente observado entre os "inocentes".
Ensinar aos adolescentes que Aids é uma doença perigosa, ainda incurável. Que se deve usar a camisinha na primeira e nas demais "transas". Que, se algum colega na escola for soropositivo, deve ser tratado com carinho e sem discriminação, bastando cuidar para que o sangue de algum corte não penetre no corpo dos demais. Que não se deve chamar o portador de HIV de "aidético", porque eles não gostam dessa expressão.
Conscientizar, enfim, todas as crianças de que a Aids, infelizmente, veio para ficar ainda por um bom tempo e de que a informação e a prevenção são as únicas armas.

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