São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997 |
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Promotor quer adiar júri de chacina
FERNANDA DA ESCÓSSIA
O Ministério Público requereu o adiamento porque não quer abrir mão do depoimento da testemunha de acusação Vera Lúcia dos Santos, que perdeu oito parentes na chacina. Vera deu à luz na sexta-feira e estava internada até ontem. Ao requerimento, os promotores anexaram um atestado médico do Hospital dos Servidores do Estado, onde Vera está internada. O atestado afirma que ela precisa de repouso por um período de 40 dias. O bebê se chama Luciene, em homenagem a uma das irmãs de Vera mortas na chacina. A chacina de Vigário Geral aconteceu em agosto de 93. Um grupo de encapuzados entrou na favela, na zona norte do Rio, e matou 21 pessoas. Os oito parentes de Vera foram mortos em casa. No julgamento do ex-PM Arlindo Maginário Filho, na semana passada, Vera depôs grávida e sob observação da equipe médica do Tribunal de Justiça. Chorou durante o depoimento, quando se lembrou das irmãs e dos pais mortos. Maginário foi condenado a 441 anos de prisão. "O crime tem uma história, e a Vera é parte dessa história. Para nós, ela é uma testemunha imprescindível. O juiz não tem como indeferir o pedido, esse julgamento vai ser adiado", afirmou o promotor Júlio César Lima dos Santos. Vera é considerada uma testemunha fundamental para a acusação. Ela não presenciou a chacina nem reconhece acusados, mas conta detalhes de como encontrou os corpos dos parentes. Seu depoimento costuma impressionar os jurados. Os advogados Nélio Soares e Themístocles de Faria Lima, que farão a defesa dos dez réus, protestaram junto ao juiz. Para eles, o pedido de adiamento foi uma manobra do Ministério Público para ganhar tempo e fundamentar melhor a acusação. "Eles não têm provas contra nossos clientes, sabem que vão perder no júri, então entraram com o pedido de adiamento", afirmou o advogado Nélio Soares. A defesa ainda tentou fazer com que Vera prestasse depoimento no hospital ou na casa dela, mas o juiz José Geraldo Antônio indeferiu o pedido. O julgamento desses dez réus é considerado um dos mais difíceis para a acusação. Os réus têm a seu favor gravações de conversas entre alguns acusados, que afirmam que eles não participaram da chacina. Se o julgamento for adiado, deverá acontecer apenas em fevereiro. Texto Anterior: Cadeia interditada continua com 80 presos Próximo Texto: Mulher aceita pena e lerá salmo 39 Índice |
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