São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Airto Moreira e Flora Purim levam maracatu às pistas

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Trinta anos depois de sua saída do país, em 1967, o percussionista Airto Moreira e a cantora Flora Purim ainda não parecem dispostos a deixar Santa Barbara, na Califórnia, onde moram atualmente, e voltar ao Brasil, embora se aproximem cada vez mais da produção musical local.
Engana-se, porém, quem pensar que eles estejam envolvidos em refinados projetos jazzísticos para pequeno público.
O casal foi bem mais fundo e termina nesta semana a fase de gravação de material para três CDs e vídeos promocionais de três grupos de música regional de Pernambuco: o grupo de maracatu de mestre Salustiano, a banda de pífanos de Caruaru e o grupo de maracatu Nação Erê (leia mais sobre os três em quadro nesta página).
Essa guinada de interesse na carreira de Airto e Flora começou em março último, quando os dois estiveram em Recife e tomaram contato com uma parte da riqueza musical do Estado.
"Fiquei impressionado com a vida que existe nesse lugar, sem a loucura da sobrevivência, sem essa necessidade de ter que pisar uns nos outros para se ir em frente", disse Airto em entrevista à Folha.
Em maio, voltaram para o Recife, onde já estava programado um concerto com 14 bandas, para que escolhessem os grupos com os quais trabalhariam.
"Recebi aqui um apoio que não recebo em São Paulo ou Rio de Janeiro, que são mercados muito comercializados", disse Airto.
O projeto prevê o lançamento de um CD para cada banda, em julho ou agosto do ano que vem. Também está prevista a gravação de vídeos que serão usados para a divulgação do trabalho. O lançamento dos trabalhos acontece primeiro na Inglaterra e Europa, e depois na Ásia, EUA e, eventualmente, Brasil.
"A Melt 2.000 quer produtos regionais e percussivos. Também vamos fazer remixes com DJs direcionado às pistas", disse.
O interesse de Airto Moreira pelo mercado de dance music também começou este ano, quando soube que o grupo alemão Bellini havia gravado um remix de uma composição sua -"Tombo"- e estourado nas pistas.
O samba "Tombo" foi gravado originalmente em 1965, com o Quarteto Novo, que era formado por Teófilo de Barros (violão e contrabaixo), Heraldo do Monte (violão e viola caipira), Hermeto Pascoal (flauta e piano) e o próprio Airto, na bateria e percussão.
"Tombo" mudou de nome. Virou "Samba de Janeiro". Ganhou roupagem tecno e estourou nas pistas européias. "Sem saber de nada, recebi da Alemanha um pacote com dois discos e quatro compactos de ouro. Achei que havia sido um engano. Sempre gravei só o que gostava e nunca pensei na minha música no mercado com toda essa repercussão. Isso abriu um mercado novo e interessante para a minha música", disse.
Airto pretende agora fazer o mesmo com os três grupos pernambucanos selecionados. "Os ritmos que ouvi aqui são ótimos para isso. Farei três CDs com a música regional e depois utilizarei o material em remixes para as pistas", disse o músico, que pretende também tocar com os grupos.
"Os trabalhos serão altamente acessíveis para os jovens. Quero ver esses três arrebentarem a boca do balão para depois partir para grupos que não posso gravar agora", complementou.
Segundo o percussionista, a opção por trabalhar em um mercado ainda em formação como Recife, é explicável.
"No Rio ou em São Paulo, eu teria que fazer acordos e concessões que não preciso fazer aqui. É mais humano entrar no Brasil por Recife", disse.

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