São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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EUA descartam apoiar um 'acordo ruim'

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Depois de mais um de seus longos processos decisórios, o governo Clinton resolveu enviar o vice-presidente, Al Gore, à convenção da ONU sobre o clima.
Mas Gore não vai liderar a delegação norte-americana. Fará apenas um discurso em Kyoto. A delegação dos EUA será comandada pelo subsecretário de Estado Stuart Eizenstat.
A dificuldade na decisão da ida de Gore se origina no fato de que o vice-presidente, quando no Senado, já defendeu com muito vigor posições sobre efeito estufa que o governo se recusa a endossar.
Além disso, Gore, candidato à sucessão de Bill Clinton em 2000, não quer ficar mal com as comunidades de empresários e trabalhadores que discordam das propostas de países europeus, muito semelhantes às do próprio vice apenas uma década atrás.
Gore falou duro, ontem, ao anunciar sua ida: disse que os EUA estão "preparados para não assinar qualquer acordo ruim". Quando os EUA deixaram de assinar alguns dos principais tratados decididos pela Eco-92, Gore, então oposicionista, criticou a administração George Bush.
A nomeação de Eizenstat para liderar a delegação fala mais alto do que qualquer discurso sobre as intenções dos EUA na convenção de Kyoto. Os candidatos naturais à posição eram Gore e o subsecretário Tim Wirth, ambos com um passado parlamentar elogiadíssimo por líderes ambientalistas.
Mas Wirth não está indo para Kyoto. Decepcionado com a impossibilidade de agir no Departamento de Estado de acordo com seus princípios, aceitou oferta do empresário Ted Turner (fundador da CNN) para gerir o fundo de US$ 1 bilhão criado com seu dinheiro para ajudar a ONU.
Eizenstat vem do Departamento do Comércio. Suas ligações são mais fortes com empresários do setor exportador. Estes temem os efeitos de medidas duras na redução do consumo de energia baseada em fontes que provocam efeito estufa. Argumentam que podem provocar desemprego e recessão.
Trabalhadores apóiam a posição dos empresários. Gore, que já perdeu pontos com os dois setores ao defender acordos de livre comércio, pode ficar em posição ainda mais frágil diante deles se resolver se aliar aos países europeus também na questão do efeito estufa.
Por outro lado, se não defender posições pelo menos não muito distantes das que tinha antes, pode não só perder apoio de ambientalistas, que o ajudaram durante toda a sua carreira política, como também prejudicar sua imagem diante de eleitores.

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