São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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A FRAUDE DE PITTA E MALUF

Para Celso Pitta e Paulo Maluf, a fraude é um recurso político legítimo. É o que se pode depreender da entrevista que o prefeito de São Paulo concedeu à Folha, publicada no domingo. Nela, Pitta explica sem rodeios e aparentemente sem pudor que o sucesso de sua candidatura é resultado da manipulação do orçamento municipal. Maluf tocou obras num ritmo insustentável, o prefeito admite, para cunhar a imagem de político realizador, inflar artificialmente o nome do desconhecido Pitta e eliminar o "risco Erundina", então a favorita da eleição. A moeda de Maluf era falsa: previa-se que, depois da eleição, a prefeitura teria de reduzir o ritmo, adequar-se à disponibilidade de recursos e colocar as finanças em ordem para retomar o fôlego, reconhece o prefeito.
Maluf e Pitta decerto não são os primeiros a estourar o caixa da administração pública com fins eleitorais. A novidade de Pitta é que ele pretende contrabandear para a opinião pública a idéia de que má-fé e abuso de confiança são armas legítimas da política, logro de resto temperado por autoritarismo. O prefeito e Maluf decidiram que sua adversária política era administrativamente indesejável. Até aí, nenhum problema. Mas, para evitar que Luiza Erundina chegasse ao cargo de prefeita, a dupla dissipou dinheiro público para falsificar seu desempenho administrativo e vencer a eleição. A estratégia dos moedeiros falsos funcionou.
Hoje, o que não funciona é a prefeitura. Pitta prometeu no domingo, mais uma vez, que logo as contas estarão em ordem. Afirmou que o programa que seus marqueteiros venderam seria para quatro anos. Não vem ao caso. Os paulistanos não podem se mudar da cidade por um, dois ou três anos à espera de que o prefeito torne São Paulo habitável depois de uma quase falência causada por gastos irresponsáveis e eleitoreiros. A cidade está imunda hoje; é hoje que o PAS não paga suas contas e está sem remédios; é por estes dias que as ruas vão ficando ainda mais esburacadas, para ficar apenas em algumas tarefas comezinhas da prefeitura.
Pitta mostrou o apreço que ele e Maluf têm pela opinião pública. Cabe agora ao eleitor decidir se ainda vai aceitar tal modo de fazer política.

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