São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Brasil ainda é muito barato', diz Franco

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Inglês fluente e pensamento articulado, o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, vestiu o traje de vendedor do produto Brasil para dizer aos empresários que o ouviam ontem em Londres:
"O Brasil ainda é muito barato".
A frase de vendedor esconde, no entanto, a estratégia do governo brasileiro: marcar diferenças com a Ásia em crise, o tema central da exposição de Gustavo Franco.
Para ele, o preço dos ativos brasileiros não está artificialmente inchado, como o dos asiáticos. Comparou: no início deste ano, o dinheiro com que se compraria uma empresa de distribuição de energia em Hong Kong daria para comprar seis empresas do mesmo porte no Brasil.
Outra comparação: enquanto a Bolsa brasileira teve uma valorização de cerca de 40% este ano, a da Tailândia ficou reduzida a 40% do que valia em janeiro último.
A comparação sobre o valor dos ativos brasileiros e asiáticos serviu igualmente para Franco afastar qualquer suspeita sobre uma eventual desvalorização do real, ao contrário do que fizeram muitos países asiáticos com suas moedas.
Ele citou os vários cálculos que se fazem sobre a sobrevalorização do real (de 2% a 7%), para afastar "a engraçada teoria de aceitar um pouco mais de inflação em troca de crescimento". "É nonsense", fulminou, que está "muito longe dos objetivos do governo".
As lições de 82
Não ficaram nisso as comparações com a Ásia. Para Franco, a crise de 1982 (ano em que o México quebrou pela primeira vez) ensinou aos latino-americanos, e ao Brasil em particular, muitas lições que só agora chegam aos asiáticos.
"Fizemos tremendos progressos em áreas em que eles têm muito a fazer", disse o presidente do BC. Citou uma delas, aliás o ponto crucial da crise na Ásia: a fragilidade do sistema financeiro, carregado de empréstimos que dificilmente serão recuperados.
No Brasil, ao contrário, o sistema "é moderno, sadio, sofisticado e internacionalizado", disse.
Recebeu apoio de sir William Purves, presidente do HSBC, que comprou faz pouco o Bamerindus: "Desde que os fundamentos sejam mantidos, o Brasil pode atrair nossos clientes de outras partes do mundo". "Fundamentos" é o jargão econômico que designa orçamentos mais ou menos equilibrados, inflação sob controle e déficit das contas externas financiável.
Purves derramou elogios à economia brasileira, admitiu que "nem tudo é perfeito", em alusão aos déficits fiscal e de contas externas, mas disse que o "Brasil tem uma estratégia econômica clara".
Para satisfação de Purves, Franco garantiu que os fundamentos serão mantidos e que o novo ambiente econômico internacional produzirá uma mudança apenas de "timing", mas não de substância da política econômica que vem sendo seguida pelo governo FHC.
Depois, em entrevista coletiva, admitiu "um bocadinho" de queda nas reservas internacionais do Brasil, mas disse que elas se estabilizaram e deverão continuar estabilizadas até o fim do ano. "Haverá alguma recuperação no primeiro trimestre, pelo efeito sazonal do aumento das exportações e redução das importações", disse.
(CR)

Texto Anterior: País depende da situação externa, diz FHC
Próximo Texto: Pompa dá lugar à descontração
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.