São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cápsula vira xarope para criança com HIV

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O Imip (Instituto Materno Infantil de Pernambuco) está sendo obrigado a transformar cápsulas de remédios contra a Aids em xarope para poder atender crianças portadoras da doença no Estado.
Segundo o coordenador de assistência de Aids da instituição, Edvaldo Souza, a medida está sendo adotada em caráter de emergência, devido à falta dos antivirais AZT e Epivir em forma líquida.
A transformação, disse Souza, é feita "de forma artesanal" na farmácia do hospital -o único que atende crianças com Aids em Pernambuco. "Reconheço que não é uma medida segura, mas é a única forma de atender esses pacientes."
O xarope improvisado é fornecido a cerca de 30 doentes com idades entre três meses e cinco anos. O Imip, entidade filantrópica que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde), cuida de 60 crianças e adolescentes portadoras do vírus da Aids no Estado.
Segundo o coordenador, a situação é mais grave com relação ao Epivir -remédio utilizado no coquetel. O medicamento em forma líquida está em falta há três meses.
O estoque do xarope de AZT, afirmou, acabou há três semanas, mas o hospital ainda conseguiu emprestar 22 frascos no final da semana passada, quantidade suficiente para suprir a demanda por no máximo dez dias.
O Lafepe (Laboratório Farmacêutico de Pernambuco), responsável pela fabricação de 50% do AZT em cápsulas distribuído na rede pública do país e fornecedor exclusivo do medicamento em xarope ao Ministério da Saúde, está com sua produção parada há um mês por falta de dinheiro.
Segundo o presidente da indústria, Antonio José Alves, o governo federal deve ao laboratório R$ 17 milhões. Ele disse ontem que o ministério liberou R$ 5,8 milhões para pagar de parte desse débito.
Mesmo assim, afirmou, a produção dos medicamentos contra Aids não poderá ser retomada em menos de 20 dias. "Devemos R$ 14 milhões na praça. Precisamos negociar essa dívida e ainda comprar matéria-prima."
Segundo o presidente do Lafepe, o laboratório não tem mais estoque para atender os hospitais. Os últimos 740 frascos de xarope de AZT foram enviados sexta-feira passada a Porto Alegre, "por força de ação judicial movida contra o governo."
Com a interrupção no fornecimento dos medicamentos, Alves calculou que cerca de três milhões de cápsulas de AZT não foram entregues ao Ministério da Saúde.

Texto Anterior: Quer-Quero atende criança deficiente
Próximo Texto: Comissão aprova piso básico de saúde
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.