São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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"Latido" de sapo do Gugu é fato comum

DA REPORTAGEM LOCAL

O sapo que late, uma das principais atrações do último "Domingo Legal", programa de Gugu Liberato no SBT, estava apenas soltando um canto de angústia, emitido na natureza em situações de estresse, para assustar predadores.
O fenômeno é comum e ocorre na maior parte das espécies de sapos e rãs, segundo o professor doutor Márcio Martins, especialista em anfíbios e répteis, do Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo).
A apresentação do sapo -que na verdade é uma rã- alcançou picos de audiência de 24 pontos, contra os 16 do "Domingão do Faustão", de Fausto Silva, onde o cantor Roberto Carlos se exibia.
Esse foi o sétimo domingo consecutivo que o programa de Liberato bateu a Globo no Ibope. Cada ponto de audiência equivale a cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo.
A rã é uma Ceratophrys aurita, conhecida popularmente como intanha, e existe em quase todo o território nacional, da Bahia ao Rio Grande do Sul.
O animal apresentado na televisão foi encontrado por uma aluna da Uniderp (Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal), em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
O biólogo Hélder Antonio de Souza, que acompanhou a rã ao "Domingo Legal", afirmou nunca ter visto animal semelhante. "Nunca tinha ouvido falar de uma coisa dessas. Só de uma pererequinha ou outra que dá um grito quando morre", afirmou.
Já o especialista em anfíbios Jaime Bertoluci, doutor pelo Instituto de Biociências da USP, conta que há até fitas gravadas com os diversos cantos dos anfíbios. Uma delas, produzida pelo Smithsonian Institute, de Washington, acompanhava uma publicação do Museu de Zoologia da USP.
"Há alguns cantos de anfíbios que se assemelham até com o balido de ovelhas. Outros lembram uma batida de martelo. Mas não se pode dizer que o sapo está latindo. Tudo depende da associação de quem ouve", disse.
Segundo Bertoluci, os anfíbios têm dois tipos de vocalização. A mais comum é o canto nupcial, emitido exclusivamente pelos machos e com a boca fechada.
O segundo tipo é o "distress call", emitido nas situações em que o animal se sente ameaçado. "Por isso eles precisavam provocar o sapo durante o programa", afirmou. A rã chegou a "morder" o microfone.
A assessora de Gugu Liberato, Estér Rocha, afirmou que a atração nunca foi anunciada como um fenômeno sem explicação.
"É apenas uma coisa curiosa, por isso sempre levamos um biólogo ou especialista para explicar. Mas tudo indica que o público gosta desse tipo de coisa", afirmou.

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