São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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Isolados, EUA admitem rever proposta

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KYOTO

Os EUA admitiram ontem negociar cotas menores para a redução, nos países em desenvolvimento, de emissão de gases que provocam o efeito estufa.
Inicialmente, a posição dos EUA era de que as metas de redução acordadas no encontro deveriam valer para todos os países.
Essa pequena concessão feita na conferência sobre mudanças climáticas em Kyoto, Japão, não foi suficiente para agradar aos países em desenvolvimento.
"Esperamos que os países desenvolvidos mostrem a liderança que é esperada deles", disse o tanzaniano Mark Mwandosya, porta-voz do G-77, grupo que reúne cerca de 130 países do Terceiro Mundo -inclusive o Brasil.
A conferência busca a criação de um protocolo ou outro instrumento jurídico capaz de frear a produção e emissão de gases que causam o aquecimento da Terra, o chamado efeito estufa.
Melinda Kimble, chefe da delegação americana, explica a posição de seu país. Os EUA defendem a negociação de quotas de emissão de gases com os países em desenvolvimento. Projetos comuns seriam feitos, com transferência de tecnologia e financiamentos.
Isso geraria uma redução nas emissões nos países em desenvolvimento. Como resultado, os EUA -ou outros países ricos- receberiam em troca um verdadeiro "direito de poluir", deduzindo de sua meta esse "ganho" obtido no Terceiro Mundo.
Kimble diz que sua proposta tem o maior custo-benefício e está baseada no mercado. "A implementação conjunta com crédito é o mecanismo mais inovador surgido num acordo ambiental."
Os EUA sugerem agora manter o índice de 1990 como objetivo para os anos de 2008 a 2012. "É uma proposta realista", diz Kimble.
O jornal japonês "Yomiuri Shimbun" afirmou que os EUA estariam dispostos a aceitar um corte de até 5% em relação ao índice de emissão de 1990. A informação não foi confirmada.
Já os europeus ocidentais querem uma diminuição de 15% dos índices de poluição de 1990 para 2010 e os japoneses sugerem corte de 5%.
A proposta americana prevê a redução de emissão dos seis principais gases-estufa; a européia inclui apenas três. A maior parte do efeito estufa é provocada pelo dióxido de carbono e pelo metano.
"Só cinco dos 33 países ricos vão conseguir cumprir o compromisso", disse Mwandosya. "Por isso eles não têm base moral para pedir reduções para nós."
Posição brasileira
"A diferenciação é um ponto fundamental da nossa proposta. Uns emitem mais do que os outros, ou há mais tempo, e isso deve ser levado em conta", disse o embaixador brasileiro Antonio Augusto Dayrell de Lima, da divisão de temas especiais do Itamaraty.
"Estamos propondo um critério concreto de diferenciação", afirmou o diretor da Agência Espacial Brasileira, Gylvan Meira Filho. Ou seja, o ônus deve ser maior para quem teve mais culpa.
A proposta brasileira de criação de um fundo ambiental, pelo qual os países ricos pagariam por projetos de redução de emissões nos países em desenvolvimento, foi encampada pelo G-77, e deverá ser um dos temas discutidos hoje.
A diplomacia brasileira acha que as atividades implementadas conjuntamente, ponto-chave da proposta americana, não deve se tornar um expediente para os países desenvolvidos contabilizarem créditos "em compensação pelo descumprimento de seus compromissos".

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